quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Core training no desporto


O treinamento da região “central” do corpo tem sido um assunto de grande e crescente interesse no meio desportivo, sendo atualmente um ponto comum entre todas as propostas de treinamento que têm por base a funcionalidade (treinamento funcional).

Entende-se que seja necessário, em primeiro lugar, fortalecer o centro para depois mobilizar as extremidades. Sendo o tronco a região central que faz a conexão entre os membros (extremidades), é cabível afirmar que uma região central fortalecida e estabilizada serve como base de suporte para a execução de movimentos mais eficientes dos membros (Bompa e Cornacchia, 2000).
Anderson e Behm (2005) salientam que a estabilidade do tronco é algo identificado como sendo crucial para o equilíbrio dinâmico de todo o corpo.

Em contrapartida, um pobre desenvolvimento da região pode representar um sistema de suporte deficiente para o trabalho intenso de braços e pernas (Bompa e Cornacchia, 2000).

Pensando nisso, desenvolveu-se uma metodologia de treinamento denominada core training ou treinamento do centro ou núcleo. Entende-se por core toda a região central do corpo, compreendendo as regiões lombar, pélvica e quadril.

A estabilidade do core ou core stability é compreendida na literatura de medicina do esporte como a capacidade de controle motor e produção muscular do complexo lombo-pelvico-quadril (Leetun et al., 2004).

Os músculos do core são os principais responsáveis pela manutenção de uma postura adequada dessa região, seja ela uma postura estática ou dinâmica, sendo que ambas as posturas são vivenciadas nas atividades cotidianas e esportivas. Portanto, seu treinamento se faz necessário para manutenção da saúde postural, evitando possíveis lesões e auxiliando no desempenho nas atividades.

Ao contrário do que muitos pensam, o fortalecimento da região do core não é uma tarefa difícil, e pode ser conseguido através de um treinamento simples. Antigos exercícios de musculação, como os levantamentos olímpicos (arranque e arremesso) são muito eficientes para essa finalidade e devem ser resgatados no treinamento desportivo.

Outra ferramenta muito eficiente, que antes era somente utilizada para a reabilitação física e o hoje invade o cenário do treinamento físico, é a instabilidade. Diversos estudos analisaram os efeitos da instabilidade sobre a ativação da musculatura do core e chegaram a conclusões positivas, principalmente quanto à ativação dos músculos profundos (estabilizadores) (Anderson e Behm, 2005; Marshall e Murphy, 2005).

Com base no respaldo que a literatura científica específica nos oferece, cabe a nós, profissionais de educação física atuantes no desporto, implantar essas ferramentas em nossas rotinas de treinamento, a fim de aprimorar o desempenho de nossos atletas.


Referências Bibliográficas


Anderson, K.; Behm, D.G. The Impact of Instability Resistance Training on Balance and Stability. Sports Medicine. 35(1): 43-53, 2005


Bompa, T.O.; Cornacchia, L.J. Treinamento de Força Consciente. São Paulo: Phorte, 2000.


Leetun, D.T.; Ireland, M.L.; Wilson, J.T.; Ballantyne, B.T.; Davis, I.M. Core Stability Measures as Risk Factors for Lower Extremity Injury in Athletes. Medicine & Science in Sports & Exercise. 36(6): 926-934, 2004.


Marshall, P.W.M.; Murphy, B.A. Increase deltoid and abdominal muscle activity during Swiss ball bench press. Journal of Strength and Conditioning Research 20(4): 745–750, 2006.

Mini-jogos e “preparação física” do jogador de futebol: alguns problemas


Mini-jogos e “preparação física” do jogador de futebol: alguns problemas
O treino a partir de mini-jogos só contribui para a preparação desportiva se vinculado ao modelo de jogo da equipe
Hoje, vou escrever apresentando dados coletados por mim, faz algum tempo, com objetivo de discutir algo que parece óbvio, mas que, em conversa recente com alguns colegas treinadores, realmente não é!

Atualmente, existe uma tendência na preparação desportiva do jogador de futebol, que é a “preparação física” a partir de jogos em espaços reduzidos e com regras adaptadas.

Há muito também, se ouve falar (com “ar de crítica”), da boca de alguns de nossos treinadores que se aventuraram fora do Brasil que, na Europa, por exemplo, o trabalho com os tais “mini-jogos” é o que predomina no desenvolvimento “físico” do atleta.

Pois bem. Algumas vezes, nesse mesmo espaço, defendi a preparação do jogador de futebol subordinada ao jogo, mas isso não quer dizer simplesmente treinar o “jogo pelo jogo”.

Treinar o jogo pelo jogo significa introduzir os tais “mini-jogos” nas sessões de treinamento sem preocupação com uma organização lógica de cargas, desenvolvimento da maneira de jogar, ou processo pedagógico.

Quando o “mini-jogo” aparece nos treinos como parte desconexa de um modelo de jogo, ou seja, sem ter preocupações com o desenvolvimento da identidade da equipe e sem ter objetivo de fortalecer o jogo que se quer jogar, ele, o “mini-jogo”, se afasta totalmente da ideia que defendo há tanto tempo.

Para que haja sentido, um trabalho que se utilize de jogos diversos, em espaços variados e com regras adaptadas, é necessário realmente que a preparação esteja subordinada, de fato, ao jogo, e isso quer dizer, em outras palavras, à construção de um jogar, de um saber fazer, individual e coletivo.

Para esclarecer o que estou dizendo, apresento na sequência alguns dados interessantes:


MOMENTO 1
pós 20 sessões de treinos Exemplo de variação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos "testes tradicionais"
Variação média no tempo de recuperação de posse de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 20% Melhora de 6%
GRUPO 2 Melhora de 3% Melhora de 6%


No quadro do momento 1, temos um grupo de jogadores de futebol de base dividido em dois outros grupos submetidos a 20 sessões de treinos, a partir de jogos. Nesse momento (momento 1), o grupo 1 foi aquele submetido a treinos subordinados ao jogo, com objetivo planejado de construção de um modelo de jogo. O grupo 2, no momento 1, também foi submetido aos mesmos exercícios (jogos) do grupo 1, mas sem respeitar uma sequência pedagógica condizente com o objetivo de construção de um modelo de jogo (ou seja, treinou por meio do “jogo pelo jogo”).

Notemos que ambos melhoraram igualmente no teste de resistência de sprints, mas foram especialmente diferentes na evolução do tempo de recuperação da posse da bola nas transições defensivas. O grupo 1, treinado de acordo com um processo definido para construção do modelo de jogo teve melhora muito superior ao grupo 2.

Na sequência, temos o momento 2, quando os trabalhos foram invertidos. O grupo 1 passou a treinar “o jogo pelo jogo’ e o grupo dois objetivando a construção de um modelo de jogo.


MOMENTO 2
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos "testes tradicionais"
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Decréscimo de 2% Melhora de 3%
GRUPO 2 Melhora de 30% Melhora de 2%


Após 20 sessões de treinos, mais uma vez o grupo submetido aos treinos concebidos processualmente (grupo 2) teve evolução, eu diria, absurdamente superior a do grupo submetido aos treinos a partir de jogos descontextualizados do processo.

Mais uma vez também, a evolução nos testes de resistência de sprints foi semelhante.

No momento 3, tanto grupo 1, quanto grupo 2 foram submetidos a treinos subordinados ao jogo, contextualizados, e com objetivo de melhorar o jogo que se desejava jogar.


MOMENTO 3
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos "testes tradicionais"
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 15% Melhora de 1%
GRUPO 2 Melhora de 13% Melhora de 0%


Os dois grupos evoluíram de maneira parecida, e continuaram a demonstrar boa melhora no tempo de recuperação da posse da bola.

Notemos que, comparando a evolução percentual dos tempos de recuperação da posse da bola, somando os três momentos, que o grupo 1, no momento 3 poderia ter maior potencial para evolução, quando comparado ao grupo 2, mas que os treinos subordinados ao jogo, de certa forma, homogeneizaram os ganhos percentuais no mesmo momento.

O fato é que, é notório, que os treinos a partir de jogos desvinculados de um processo definido de construção de modelo de jogo, não propiciam ganhos satisfatórios na evolução do jogar.

Ressalto, mais uma vez, que os mesmos exercícios foram empregados aos dois grupos. A ordem dos mesmos é que foi diferente. Nos grupos em que os treinos estavam contextualizados com o jogar, respeitou-se uma ordem pedagógica de “sobrecarga” (e entenda-se aqui, sobrecarga, como algo que integra as dimensões tática, física, técnica e psicológica). Nos grupos em que os treinos foram no formato “jogo descontextualizado”, os exercícios (os jogos) foram alocados nos treinos e semanas de trabalho, em ordem aleatória.

Não tenho objetivo, aqui nesse espaço, de descrever minuciosamente aspectos referentes à metodologia para coleta de dados ou análises estatísticas. Isso é coisa para outro fórum de discussões – e já foi, outrora, bem discutido.

Espero, porém, ter contribuído para avançarmos com algumas ideias e esclarecer certas dúvidas.

Falcão entrevista José Mourinho: hoje peço licença aos leitores


interessante entrevista do treinador José Mourinho, em uma das poucas oportunidades em que responde perguntas a um entrevistador brasileiro
Minha intenção inicial para o texto desta semana, era a de discutir uma interessante declaração do treinador da equipe do Internacional de Porto Alegre, Jorge Fossati, que disse recentemente que seu esquema tático preferido é o 1-3-4-2-1 (que as pessoas confundem, segundo ele, com o 1-3-6-1).

Basicamente, iria explorar o fato, de que apesar de em uma foto estática (como na figura que segue), aparentemente, a ocupação dos espaços do campo de jogo ser igual para os esquemas táticos 1-3-6-1 e 1-3-4-2-1, na verdade, as dinâmicas que regem cada uma de suas linhas fazem com que eles (os esquemas) apresentem identidades de jogo bastante diferentes.



Porém, vou pedir licença aos leitores, para reproduzir na sequência, uma interessante entrevista, do treinador José Mourinho, em uma das poucas oportunidades em que responde perguntas a um entrevistador brasileiro (Paulo Roberto Falcão).

A entrevista foi publicada pela edição eletrônica do jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br) de 06 de fevereiro de 2010, e segue na íntegra, logo abaixo:

Mourinho: "O craque? O craque é a equipe!"

Em passagem pela Itália, Paulo Roberto Falcão entrevistou José Mourinho, técnico da Inter de Milão e um dos treinadores mais respeitados do mundo

- Paulo Roberto Falcão

Estive na Itália na semana passada e me encontrei com José Mourinho, o mais respeitado treinador europeu da atualidade e certamente um dos melhores do mundo. Aos 47 anos, ele comanda a Inter, de Milão, lidera o campeonato italiano, fala cinco idiomas e ganha mais de 10 milhões de euros por ano. Campeão da Uefa e da Liga dos Campeões pelo Porto entre 2002 e 2004, Mourinho foi contratado a peso de ouro pelo Chelsea da Inglaterra e elevou ainda mais sua cotação ao ganhar dois títulos nacionais (2005 e 2006) depois de 50 anos de abstinência.

Em junho de 2008, assumiu a Inter, já tendo conquistado o título da Série A na temporada da Itália e a Supercopa da Itália. Na Inter, ele comanda os brasileiros Júlio César, Maicon, Lúcio e Thiago Motta. Português de Setúbal, filho de um goleiro do União de Leiria, Mourinho chegou a tentar a carreira de jogador, sem muito sucesso, mas formou-se em Educação Física, fez vários cursos para treinador e começou a deslanchar ao ser contratado pelo Sporting de Lisboa para ser o tradutor do técnico inglês Bobby Robson, com quem manteve parceria também no Porto e no Barcelona. Depois, ainda no Barça, foi treinador adjunto do holandês Van Gaal, antes de voltar para Portugal já como técnico principal, primeiro de Benfica e União de Leiria, e posteriormente do Porto, com o qual conquistou seus primeiros títulos europeus. É um estudioso do futebol, um estrategista, um gestor de pessoas e um profissional extremamente meticuloso, como se pode ver nas respostas às 20 questões que lhe apresentei.

Falcão – Você é considerado, ao lado de Alex Ferguson, o mais reconhecido treinador europeu. Importa ser o número 1? Como você vê esta questão?

Mourinho – O número 1 é uma coisa muito relativa. Quem ganha mais vezes é o número 1. Ferguson ganha há 30 anos. Eu ganho há sete anos. Guardiola ganhou tudo à época (temporada) passada. E há ainda outros que foram ganhando coisas importantes. Mas o importante é estar no topo muito tempo.

Falcão – Você teve forte influência de Bobby Robson no início da carreira. Considera-se um seguidor de suas ideias? Que outros profissionais o inspiraram?

Mourinho – Bobby Robson foi um senhor do futebol e eu um sortudo por trabalhar com ele. Futebolisticamente temos poucos pontos em comum. Em comum, a paixão pelo futebol e a consciência de que o aspecto psicológico é fundamental.

Falcão – Futebol europeu e sul-americano: ainda há diferenças acentuadas na sua opinião ou a globalização do futebol misturou tudo? Se há diferenças, quais são, quem leva alguma vantagem?

Mourinho – Futebol é futebol. Mas as diferenças culturais são importantes. Não há dois futebóis iguais. O talento na América do Sul nasce todos os dias, mas a organização tática e a intensidade do jogo são muito mais altas na Europa. Pelo clima, pela personalidade, pela cultura, pelos árbitros. Há tantos fatores que condicionam e fazem o futebol diferente em todo o mundo.

Falcão – Os treinadores brasileiros não têm tido a mesma sorte dos jogadores no futebol europeu. Wanderley Luxemburgo não teve sucesso no Real Madrid, Luiz Felipe teve mau desempenho no Chelsea. Por que na sua opinião?

Mourinho – Os jogadores têm mais tempo para se adaptarem. Os treinadores, quando o resultado não é imediato, saem logo, quase sem ter tido tempo para perceber onde estavam, e as suas necessidades de adaptação à realidade nova. O talento dos jogadores, desde que modelado às exigências da intensidade e do rigor tático europeu, vem sempre acima, e todos sabemos que o inato, o dom, o talento que Deus deu, existe aos quilos no jogador sul-americano que, depois, enquadrado com as características do jogador europeu, faz um produto final de grande qualidade. O problema do treinador sul-americano na Europa, se calhar, será o mesmo tipo de problema que um treinador europeu pode sentir para treinar na América do Sul.

Falcão – Você ainda tem entre suas metas treinar a seleção de Portugal?

Mourinho – Sim... mas quando for velhinho. Adoro treinar e jogar, adoro treinar todos os dias e jogar grandes jogos todas as semanas. Quero continuar ao mais alto nível em Espanha, Inglaterra ou Itália. Na seleção, está-se muito tempo de férias. E eu, sem futebol, não sou feliz.

Falcão – Portugal tem chances na África do Sul? Você, que trabalha com jogadores da Seleção Brasileira na Inter, acha que a diferença técnica entre as duas seleções é grande?

Mourinho – Portugal tem chance porque num torneio de curta duração tudo pode acontecer. Mas, objetivamente, há seleções com mais talento em quantidade. Portugal tem jogadores top, mas não 22. Não comparemos Portugal com o Brasil, porque o Brasil pode fazer três seleções iguais. Mas, num jogo, Portugal pode ganhar ao Brasil. Futebol não é matemática, onde dois mais dois são sempre quatro.

Falcão – Quem são os seus favoritos para a Copa do Mundo?

Mourinho – Os de sempre. Os que têm na sua história alguma Copa. E a Espanha, que tem uma estrutura de base muito forte, com jogadores de meio campo e ataque fantásticos.

Falcão – Você passa as férias em Salvador e tem vários jogadores brasileiros na Inter. De onde vem esta ligação com o futebol brasileiro?

Mourinho – Desde sempre o futebol italiano teve jogadores brasileiros, alguns verdadeiramente top. E quem ama futebol, quem ama talento, quem pensa que sem talento não há futebol, obviamente se sente ligado ao futebol brasileiro, o maior produtor de talento.

Falcão – Apesar de contratarem dezenas de jogadores brasileiros, os europeus às vezes passam a impressão de conhecer tão pouco clubes e futebol brasileiro. Isso é real? Por quê?

Mourinho – Enquanto trabalhei na Inglaterra saí um pouco do controle do futebol brasileiro porque na Inglaterra o jogador não comunitário só pode entrar depois de ser já consagrado, mas em Portugal há sempre a necessidade de pesquisar no Brasil, principalmente em clubes onde o jogador não está ainda inflacionado. Recordo que o meu primeiro clube como treinador, a União de Leiria, de onde saltei depois para o FC Porto, estive no Brasil um mês a saltar de campo em campo, de clube em clube, de treino em treino, de Estado em Estado. Encontrei jogadores com ambição e talento, que em Portugal fizeram um grande trabalho e me ajudaram a ter sucesso. É preciso trabalhar na prospecção, e no Brasil encontra-se talento.

Falcão – A Fifa costuma eleger o melhor jogador do mundo a cada fim de ano. Por que os grandes jogadores que estão fora da Europa nunca são selecionados?

Mourinho – Boa pergunta. Talvez porque os grandes jogadores que não estão na Europa são logo contratados. Com quantos anos veio Ronaldo para a Europa? E o Roberto Carlos? E o Kaká? E o Maicon? Saem muito cedo e no momento da maturação já estão com a camisa de um grande clube europeu.

Falcão – As suas biografias que circulam na internet lhe dão dois rótulos: genial e arrogante. Você aceita algum deles? Como se autodefine?

Mourinho – Sou José Mourinho, com suas qualidades e defeitos. Mas no futebol estou para servir o meu clube e os meus jogadores, não para ser simpático ou político. Fora do futebol, sou uma pessoa diferente, mas muito fechado à minha intimidade e autonomia.

Falcão – Qual a sua ideia de formação tática? Tem um esquema preferencial? Três zagueiros?

Mourinho – Penso que o mais importante é uma formação adaptada às características dos jogadores e adaptada às necessidades da competição que se joga. Um treinador deve ter a cultura tática suficiente para saber treinar e jogar de um modo que se adapte aos jogadores. O mais importante é o jogador sentir-se feliz e confortável no modo como a equipe joga e nas funções que o treinador decide.

Falcão – O trabalho tático é fundamental ou não é tão necessário quando uma equipe é experiente como a sua Inter?

Mourinho – Trabalho tático é fundamental. Uma equipe deve estar em campo segura, os jogadores devem saber o que fazer em todos os momentos do jogo. E de jogo para jogo surgem fatores novos, e devemos reduzir ao máximo essa imprevisibilidade. Trabalhar taticamente sempre.

Falcão – Você costuma treinar em sigilo, sem a presença da imprensa no treino? Em que isso ajuda?

Mourinho – Gosto de trabalhar tranquilo, sem a presença de adeptos (torcedores) ou imprensa. Acho que na hora dos feedbacks em que, por vezes, o treinador critica ou ensina o seu jogador, a intimidade dá muito maior segurança ao jogador. No entanto, reconheço que o trabalho da imprensa deve ser respeitado, e a paixão dos adeptos deve ser alimentada. Por isso procuro de vez em quando abrir o treino.

Falcão – No futebol atual, é indispensável que todos marquem? O craque do time precisa marcar?

Mourinho – O craque? O craque é a equipe! Ganhamos todos e perdemos todos. Somos todos iguais. Não digo marcar, não digo que um atacante deve recuar 30 metros para marcar. Mas trabalhar, devem trabalhar todos. E um atacante pode trabalhar se pressionar o seu adversário na frente. Sem correr muito, pode atrasar a saída do adversário para o contra-ataque. Sim, sim, temos todos que trabalhar.

Falcão – Nesta questão da aplicação coletiva, há diferença entre jogador sul-americano e europeu?

Mourinho – Não vejo diferença. Já tive de tudo, europeu que trabalha e joga para o coletivo, europeu egoísta, egocêntrico, sul-americano que morre em campo pelo coletivo, sul-americano com dificuldade de percepção do trabalho coletivo. Mas, com honestidade, empatia e trabalho, penso que todos podem exprimir o seu talento num enquadramento coletivo de base.

Falcão – O número de atacantes é importante, ou interessa mais que vários jogadores cheguem na frente na hora certa?

Mourinho – A ocupação do espaço ofensivo é determinante. Como? Com jogadores mais fixos, com jogadores mais móveis, com ataque planejado e homens-referência no ataque, com jogadores de mobilidade e velocidade que chegam a posições ofensivas em momentos de transição após recuperar a posse da bola. Digamos que para chegar ao estádio o adepto (torcedor) pode ir de carro, a pé, de bicicleta, de ônibus. O importante é mesmo chegar ao estádio.

Falcão – Há alguma regra do futebol que você gostaria de modificar?

Mourinho – O tempo útil. Bola fora, cronômetro parado. Jogador lesionado, cronômetro parado. Bola na arquibancada, cronômetro parado. Gandula esconde bola, cronômetro parado. Assim, o jogo deixaria de ter estas artimanhas que o fazem menos bonito e menos honesto. E, claro, a câmara de baliza óbvia. Nesta indústria, não é possível ganhar ou perder um jogo com uma bola que não entrou.

Falcão – Jogador rico, milionário, consagrado, é mais difícil de administrar?

Mourinho – Não, não. Honestidade, motivação, paixão não têm que ver com dinheiro nem estatuto.

Falcão – Depois de trabalhar em Portugal, na Inglaterra e na Itália, qual é a sua meta na carreira?

Mourinho – Trabalhar e ganhar sempre nos campeonatos de top, Itália, Espanha, Inglaterra. E ser feliz no que faço, levantar de manhã e ir a sorrir treinar, estar a 10 minutos do início do jogo e sentir a emoção de jogar. “O craque? O craque é a equipe!”.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Análise de um programa de treinamento anaeróbio na pré-temporada de um clube profissional de futebol

Em período de 10 dias, deve-se objetivar a resistência aeróbia, pois realizar exercícios de resistência anaeróbia pode minimizar risco de os atletas sofrerem lesões musculares
Matheus Costa
Resumo

O presente estudo tem como objetivo analisar como é feito um treinamento anaeróbio na pré-temporada em um clube profissional de futebol, em um Centro de Treinamento localizado na Av. Marquês de São Vicente, no Bairro da Barra Funda, Zona Oeste da cidade de São Paulo/SP, tendo como população de amostra vinte e oito atletas profissionais de futebol, todos em condições de treinamento, sendo quatro goleiros, cinco zagueiros, cinco laterais, oito meios de campo e seis atacantes com idades variando entre dezoito a trinta e cinco anos. Objetivou-se neste estudo atingir a melhor forma física do atleta, para isto, foi observada toda a pré-temporada do futebol em um período de dez dias. Neste período foram realizadas dezessete sessões de treinamentos onde quatro para a resistência aeróbia, quatro para a resistência anaeróbia e nove para a resistência mista. A predominância no treinamento físico da pré-temporada deve ser a resistência mista, pois é o que mais se assemelha a uma partida de futebol, onde os atletas devem trabalhar durante os noventa minutos fundamentos desta precisão.

O calendário brasileiro não proporciona um tempo ideal de preparação antes dos campeonatos que ocorrerão durante o ano, devido a isso a pré-temporada tem um tempo curto e a conseqüência disso pode resultar em graves lesões aos atletas pela falta adequada de preparação no período pré-competitivo.

Devido à importância que se tem notado ultimamente na preparação física do futebol, este estudo pretende ainda analisar como é efetuado o treinamento físico em uma pré-temporada, levando-se em consideração o curto espaço de tempo da reapresentação da equipe até a primeira partida na competição da temporada, verificando-se a porcentagem de treinamento aeróbio, anaeróbio e mista; determinando em que momento treina-se o sistema anaeróbio; Analisando se o período preparatório foi considerado ideal para o início de uma temporada.

Introdução

Como modalidade esportiva o futebol é considerado extremamente complexo, pois existe na sua prática a interferência de várias capacidades motoras atuando conjuntamente: velocidade e coordenação; resistência e agilidade e capacidade de consumo de oxigênio (SOUSA, 2006 apud PELLEGRINOTTI et al, 2008). É um esporte de natureza essencialmente intervalada, intercalando períodos de baixa, média e alta intensidade, de modo que o jogo é indutor de diferentes impactos fisiológicos, que devem ser respeitados na prescrição do treinamento (FERNANDES, 2002 apud PELLEGRINOTTI et al, 2008). Essa modalidade exige ainda que os praticantes tenham grandes alternâncias de movimentação, ou seja, corridas com altas velocidades, movimentação moderada de média duração, saltos, contato corporal, chutes com máxima potência e moderados, mudanças de direção e habilidades para controle da bola. Todas essas ações podem ser avaliadas por meio de testes específicos, testes estes que envolvem deslocamento para o futebolista, tornando-se indicado para observação do desempenho de capacidades exigidas na prática.

O futebol é um esporte que implica a prática de exercícios intermitentes (intervalados), de intensidade variável sendo aproximadamente, 88% (oitenta e oito por cento) envolvendo atividade aeróbia e 12% (doze por cento) envolvendo atividade anaeróbia de alta intensidade A preparação física do futebol deve ser aplicada de acordo com as exigências que os jogadores sofrem durante uma partida que é caracterizada pela realização de esforço anaeróbio interposto por períodos de menor intensidade e duração variada (BARROS; GUERRA, 2004). Com isso, o preparador físico tem o propósito de aplicar um treinamento para que os jogadores tenham condições de atuar durante toda a temporada.


Objetivo

Analisar como é feito um treinamento anaeróbio na pré-temporada em um clube profissional de futebol procurando atingir a melhor forma do atleta.


A preparação física do futebol no Brasil

A trajetória do futebol brasileiro inicia-se a partir de 1894 com a chegada de Charles Miller para o Brasil. Caldas (1990, p. 37) entende que ocorreram duas fases que modificaram o nosso futebol: o amadorismo até 1933 e o profissionalismo até os dias de hoje. A partir de 1933 houve a implantação do futebol profissional brasileiro, talvez o marco mais importante na história deste esporte no Brasil. Com isso, cresceu a valorização desta modalidade e os jogadores passaram a ser cobrados, ainda que de forma precária, e os investimentos começaram a surgir.

Atualmente o aspecto científico do treinamento está desenvolvido, os profissionais se especializam utilizando aparelhos eletrônicos para determinar o nível de condicionamento e a evolução dos atletas, portanto seria impossível não pensar em um preparador físico integrando a comissão técnica de uma equipe.

No futebol, a preparação física não pode ser retratada como um objetivo em si, devendo ser subordinada ao objetivo superior que é a melhoria da capacidade de jogo, tornando ideal a capacidade esportiva (WEINECK, 2000, p. 18) e vem sofrendo transformações por se tratar de um esporte em que iniciou-se brevemente os estudos científicos para a melhora da performance, bem como os aspectos técnicos, táticos e físicos.

Com a finalidade de preparar os futebolistas para a temporada, é importante destacar três etapas de desenvolvimento da capacidade especial de trabalho: trabalho aeróbio, preparação muscular e aumento da capacidade energética do organismo (GOLOMAZOV; SHIRVA, 1997, p. 19). Com isso, a preparação física específica visa conseguir o desenvolvimento ótimo de manifestações das capacidades físicas que correspondem às necessidades específicas de um futebolista, durante o desenrolar de uma partida.

Com a cientificidade envolvendo esse assunto, pode-se destacar a individualização dos atletas nos treinamentos da capacidade física para o desenvolvimento do mesmo de acordo com sua respectiva posição no jogo. Um dos princípios científicos do treinamento físico no futebol, afirma Leal (2000, p. 139), é a individualidade biológica que diz respeito às cargas de treinamento, visando serem distribuídas a cada atleta, de acordo com os resultados dos testes e avaliações, bem como pela sensibilidade do preparador, sabendo da impossibilidade de haver dois indivíduos idênticos.


Treinamento aeróbio no futebol

Resistência aeróbia no futebol é a capacidade de se manter um esforço de longa duração com intensidade fraca, portanto, afirma Fernandes (1994, p. 49), é um esforço realizado sempre na presença de oxigênio, havendo um equilíbrio entre a quantidade consumida e a recebida, sendo fundamental no futebol devido ao tempo de duração de um jogo. A importância do treinamento da capacidade aeróbia do futebolista nota-se através da distância percorrida durante os noventa minutos de jogo, Bangsbo citado em Barros e Guerra (2004, p. 2) que no geral, cada atleta percorre em média dez mil e oitocentos metros.

A resistência aeróbia de um futebolista deve ser treinada através de meios específicos e inespecíficos na qual seu nível continue se elevando a cada temporada, de forma que mesmo os meios gerais cada vez mais tornar-se-ão intensos e mais próximos da realidade de competição. Não se justifica a utilização de meios de corridas sem nenhum objetivo definido para o futebolista, porém também não se justifica o total abandono dos treinamentos para a manifestação aeróbia da resistência (FRISSELLI; MANTOVANI, 1999, p. 212).

Os objetivos do treinamento aeróbio no futebol são de aumentar: a velocidade de recuperação após a atividade de alta intensidade como piques, a capacidade do sistema cardiovascular em transportar oxigênio aos músculos solicitados durante a partida de futebol e a capacidade dos músculos solicitados em utilizar o oxigênio fornecido e oxidar ácidos graxos. Um teste que vem sendo aplicado no futebol para a avaliação da resistência aeróbia é o soccer test que consiste na realização de quatro corridas de quinze metros com intervalo de dez segundos, tendo como objetivo fazer o maior número de repetições possíveis, o teste é encerrado quando o atleta não conseguir acompanhar a velocidade estabelecida, começando com a velocidade de nove quilômetros por hora e podendo chegar a uma velocidade de vinte quilômetros por hora, sendo executado em campo de jogo com os atletas utilizando chuteiras e a cada quinze segundos sendo monitorado sua freqüência cardíaca (BARROS; GUERRA, 2004).

Analisando este teste específico, Frisselli e Mantovani (1999, p. 217) citam que três fatores são fundamentais para determinar a condição física de cada futebolista, sendo eles: os testes selecionados têm que refletir a característica física do esporte praticado e mais especificamente da posição em que joga, deve-se periodizar a aplicação dos testes para haver uma comparação no decorrer da temporada e de que seria interessante padronizar os testes para todas as categorias a fim de verificar a evolução no decorrer dos anos.

Este teste, apesar de apresentar o VO2 máximo do atleta, cita Barros e Guerra (2004, p. 73), é considerado um teste indireto para avaliar a capacidade aeróbia dos jogadores sendo aceito como a melhor forma de quantificar a capacidade para exercícios prolongados. Fernandes (1994, p. 108) afirma ainda que os resultados obtidos com este teste servem para medir a resistência aeróbia possuindo uma correlação com o VO2 máximo conseguido na esteira rolante, portanto apresenta critérios científicos com qualidade comprovada.

Os estudos da ciência no futebol precisam aprimorar testes específicos para que haja somente a participação de uma resistência, procurando ter uma maior exatidão, neste caso, nos resultados da capacidade aeróbia. Nota-se, por se tratar de um esporte em que a capacidade física do atleta é ampla por trabalhar em uma partida cargas como potência máxima até caminhadas, a diversidade dos testes aplicados aos atletas conforme as estruturas que os clubes profissionais tem em seu departamento.

Embora o futebol seja um desporto não-contínuo e de alta intensidade, sua complexidade determina elevada demanda de todos os jogadores, uma boa base de resistência aeróbia deve ser estabelecida para prevenir o efeito negativo da fadiga (baixos níveis de resistência diminuem a capacidade de realizar trabalho de alto padrão), reduzindo o nível de contração, julgamento tático e a capacidade de realizar habilidades técnicas, aumentando ainda a probabilidade de lesões (BOMPA, 2002, p. 85). Por se tratar de um desporto em que envolve diversas capacidades físicas, percebe-se uma atenção primordial ao treinamento aeróbio por ser predominante em uma partida de futebol, mesmo não sendo um fator que influencie diretamente no resultado de uma partida, mas que crie base para a mesma.


Treinamento anaeróbio no futebol

Apesar do futebol ser um esporte predominado por exercícios aeróbios o que altera os resultados em uma partida, são os exercícios anaeróbios, ou seja, de alta intensidade e curta duração, como um chute, cabeceio ou contra-ataque, que ressaltam a importância de se trabalhar a preparação física para a melhora da capacidade anaeróbia do jogador.

Treinamento anaeróbio é definido como sendo a capacidade do músculo em realizar atividades de alta intensidade sem a presença suficiente de oxigênio no organismo do atleta, isto ocorre normalmente nas partidas de futebol e deve-se trabalhar com os jogadores da maneira mais real possível de um jogo (BARROS; GUERRA, 2004, p. 29).

Bompa (2002, p. 261), afirma que a capacidade anaeróbica é a energia produzida em decorrência do exercício na ausência do oxigênio, sendo que esta energia está diretamente ligada à intensidade do rendimento de uma rotina tática e o melhor método para melhorar esta capacidade é o trabalho específico, entretanto, o anaeróbio é mais efetivo, com um tempo mais longo de restabelecimento da reserva de energia, se alterná-lo com o treinamento aeróbio.

A necessidade da resistência anaeróbia para o jogador de futebol proporciona para Weineck (2000, p. 30): o condicionamento físico das características de desempenho muscular do jogo em si (mudanças de direção, aceleração chutes e dribles); boa assimilação das cargas intermitentes e repetitivas de corrida, acelerações e saltos, dribles em velocidade, chutes e cabeçadas rápidas; melhor capacidade de resistir às mudanças de velocidade e poder acompanhar o alto ritmo de jogo e capacidade de realizar acelerações, saltos, dribles e chutes com ritmo máximo de forma dinâmica no jogo todo.

Brunoro; Afif (1997, p. 100) consideram o treinamento anaeróbio no futebol como sendo a fase mais longa e importante que, obedecendo a intervalos, consiste em treinamentos com resistência de velocidade, resistência em distâncias não muito longas de duzentos a trezentos metros e resistência de velocidade em distâncias mais curtas com o objetivo de criar situações que o atleta pode deparar no jogo.

Para o sucesso dos jogadores é necessário que haja grande capacidade de potência anaeróbia, sendo que esta potência pode ser dividida em lática e alática, ambas sendo fundamentais para o desenvolvimento dos futebolistas profissionais.

a) Treinamento anaeróbio lático no futebol

À medida que a duração de um esforço máximo explosivo ultrapassa os dez segundos, a dependência em relação à energia anaeróbia proveniente dos fosfatos intramusculares diminui, com um aumento proporcional na transferência de energia anaeróbia proveniente da glicólise e, para aprimorar a capacidade desta pelo sistema energético em curto prazo do ácido lático, completa McArdle, Katch e Katch (2003, p. 498), o treinamento terá que sobrecarregar esse aspecto do metabolismo energético.

No início do exercício para se chegar à resistência anaeróbia lática a fonte energética é puramente aeróbia. Após esse limite, a produção de lactato vai aumentando progressivamente através do esforço e, se o aumento do esforço for constante, maior será a concentração do ácido lático no sangue, se essa produção for maior que quatro mmol de lactato por litro de sangue, será atingido a resistência anaeróbia, a partir do qual os valores do lactato sofrem um aumento súbito com um esforço maior (FERNANDES, 1994, p. 51).

O objetivo do treinamento anaeróbio lático no futebol para Barros e Guerra (2004, p. 29) é aumentar a capacidade do músculo em realizar atividades de alta intensidade repetidas vezes, visto que durante o jogo o atleta é obrigado a trabalhar em alta intensidade com curtos períodos de recuperação.

O nível elevado de lactato sangüíneo e a diminuição nos estoques de glicogênio muscular geralmente estão ligados a prejuízos no desempenho neuromuscular, diz Wisloff em Barros e Guerra (2004, p. 12) e, durante uma partida, pode haver grandes diferenças na produção de lactato entre os jogadores, já que a quantidade de exercícios de alta intensidade depende de vários fatores como a motivação, o estilo de jogo, as táticas e as estratégias.

Estudos realizados por Reilly, Thomas, Korcek, Palfay Morsov e Lukscinov, afirma Fernandes (1994), para calcular as distâncias percorridas em velocidade máxima verificam que, durante as partidas, ocorriam muitas repetições que variavam de três a trinta metros, sendo mais freqüentes as distâncias de dez a quinze metros, que se repetiam de trinta a sessenta vezes por jogo. Com bases nesses resultados, pode-se definir que a distância total percorrida em velocidade aeróbia lática é de aproximadamente oitocentos metros, o que corresponde a dez por cento do total que se corre em uma partida, equivalente a oito quilômetros, segundos os pesquisadores citados acima.

No futebol, o principal objetivo do sistema anaeróbio lático, entende Gomes e Souza (2008, p. 173) é o de criar adaptações e, conseqüentemente, aumentar o potencial energético atribuindo às influências da carga que visam ao treinamento dessa capacidade.

b) Treinamento anaeróbio alático nofFutebol

O sistema anaeróbio alático, para Fernandes (1994, p. 48) está diretamente relacionada com a força explosiva, que no futebol significa o salto para o cabeceio, passes e chutes, arremessos laterais, lançamentos do goleiro com as mãos e dribles, estes sendo fatores que podem alterar o resultado de uma partida. No mesmo caminho, Zakharov (1992, p. 112) afirma que os mecanismos fisiológicos que estão na base desta resistência são, em grande medida, parecidos com os que determinam o nível das capacidades de velocidade e de força do atleta e o aumento da potência do sistema alático de asseguramento energético atribui uma particularidade metódica única às influências de treino que visam ao treinamento desta resistência.

O futebolista é exigido aproximadamente quinze por cento da duração de uma partida. Nesses curtos períodos ocorrem as ações determinantes para a conclusão de uma jogada, correspondendo entre cento e sete a cento e trinta e nove ações intensas por jogo como todos os deslocamentos de curta duração (dribles, saltos, mudanças de direção, confrontos e disputas com e sem posse de bola). Como estas ações duram cerca de um a cinco segundos, isto representa uma ação intensa a cada quarenta e três segundos, portanto, a recuperação rápida entre duas ou mais ações intensas torna-se uma exigência como conseqüência da evolução do jogo (CARZOLA; FAHRI, 1998, p. 62).

Para o treinamento cardiopulmonar, cita Frisselli e Mantovani (1999, p. 210), a fonte anaeróbia alática é indispensável para o desenvolvimento da resistência do futebolista, pois ela está diretamente relacionada com a utilização dos fosfagênios para a ressíntese do ATP, cabendo a ela a promoção dos chutes, passes, fintas, dribles e saltos.


Metodologia

Casuística

Primeiramente será efetuada a composição do referencial teórico. Com base na literatura voltada ao tema proposto, para com esse embasamento seguir o estudo. A pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso que de acordo com Gil (1991, p. 121), o estudo de caso caracteriza-se pela grande flexibilidade que este possui, não estabelecendo um roteiro rígido que determine como a pesquisa deverá ser desenvolvida. A coleta de dados foi realizada pelo procedimento da observação.

A pesquisa foi realizada em um Centro de Treinamento localizado na Av. Marquês de São Vicente, no Bairro da Barra Funda, zona oeste da capital paulista, onde existe três campos oficiais, um campo reduzido, um campo para treinamento de goleiros, uma sala de musculação e um núcleo de reabilitação esportiva contando com um departamento médico, fisioterápico e fisiológico.

Métodos

O presente estudo foi realizado com a população de vinte e oito atletas profissionais de futebol, sendo que todos encontraram-se em condições de treinamento, na qual quatro deles eram goleiros, cinco zagueiros, cinco laterais, oito meios de campo e seis atacantes com idades variando entre dezoito a trinta e cinco anos. A pré-temporada foi composta por dezessete sessões de treinamento em um período de dez dias sendo que nove treinos foram realizados às nove horas e oito às dezesseis horas com o sétimo e décimo dia sendo realizado somente pela manhã e o oitavo dia somente no período da tarde, durando cada treinamento aproximadamente duas horas de atividades, incluindo nesse período dois jogos-treino, musculação (objetivando a pliometria básica), jogos em campo reduzido, exercícios de coordenação e propriocepção, trabalho de resistência anaeróbia e treinamento técnico e tático, os treinamentos foram executados de acordo com cada proposta do dia, objetivando o aprimoramento físico para a melhora do desempenho.

A observação foi feita através de anotações do que foi realizado nesta época e, no decorrer da pesquisa serão analisados e discutidos todos os dias desta, relatando os exercícios e objetivos de cada proposta realizados nos dez dias de treinamento.

Resultados e discussão

Resistência geral: Pode-se especificar resistência geral o seguinte trabalho executado na pré-temporada: uma corrida com duração de quarenta minutos ao redor do campo de futebol.

Corrida de 40 Minutos: Percebe--se que é um tempo adequado para o primeiro dia de treino após as férias, procurando adequar o atleta a suportar posteriormente o trabalho para a melhora da resistência específica, só que ter o controle de sua frequência cardíaca traria cientificidade na execução do trabalho sendo benéfico para os jogadores, fato que não ocorreu neste treinamento. A frequência cardíaca mostra-se importante devido à intensidade no exercício, pois se os atletas trabalharem com uma carga acima do previsto neste período poderão chegar a um overtrainning, tendo como consequência o baixo rendimento da equipe tanto da parte física, como técnica e tática, já se for trabalhado abaixo do considerado ideal neste período, os exercícios físicos não trarão benefícios nenhum para a prática do desporto específico, sendo necessário trabalhar a resistência aeróbia de acordo com que se executa esta em uma partida de futebol.

Resistência específica: Exercícios de preparação específica constituem o maior volume de exercícios de treinamento dos atletas qualificados. Sua intensidade, estrutura e duração assemelham-se às exigências impostas ao atleta durante a competição (FRISSELLI; MANTOVANI, 1999, p. 51). No caso deste estudo, define-se como resistência específica os seguintes trabalhos executados na pré-temporada: soccer test, jogos em espaço reduzido, tiros de velocidade até cem metros, exercícios de ataque/contra-ataque com dois defensores e quatro atacantes, pliometria básica, oito tiros de mil metros, exercícios de propriocepção, treinamento específico por posição, coordenação e saltos, treinamento técnico envolvendo chutes e cabeceios, treinamento técnico tático, cobranças de falta e amistosos.

a) Soccer Test: é uma forma de controlar as variáveis de aptidão física ao longo da temporada, mostrando as evoluções físicas que ocorrem durante uma periodização bem planejada. A média dos jogadores no teste ficou em quinze quilômetros por hora chegando ao sétimo nível do programa, isso quer dizer que os atletas correram aproximadamente mil seiscentos e oitenta metros, começando os primeiros duzentos e quarenta metros a oito quilômetros por hora e terminando essa mesma distância a velocidade de quinze quilômetros por hora. Barros e Guerra (2004, p. 36) afirmam que o atleta deve trabalhar nos treinamentos uma intensidade superior da velocidade e resistência que são executados nos jogos, para que nas partidas o atleta encontre mais facilidade na execução de sua tarefa.

b) Jogos em espaço reduzido: Este tipo de atividade ocorreu por duas vezes, porém um com dois tempos de trinta minutos e outro com um tempo de quarenta e cinco minutos. Melo (2001, p. 51) afirma que esse treinamento é importante nesse período, pois se usa movimentação constante dos jogadores trabalhando as resistências aeróbias e anaeróbias juntas especificando este trabalho para o desporto praticado. O trabalho em campo reduzido se torna importante para a preparação dos jogadores, pois neste momento os atletas se deslocam constantemente e o tempo necessário deve ser inferior ao de uma partida para que seja um exercício efetivo, devido às constantes movimentações dos jogadores que executam todos os fundamentos que ocorrem durante um jogo, só que por mais vezes por ser em um espaço inferior a este (GOMES; SOUZA, 2008, p. 205).

c) Tiros de velocidade: Em todos os tiros de velocidade o tempo determinado pelo preparador físico foi executado de acordo com o que foi pedido, onde nenhum atleta ultrapassou ou antecedeu o tempo determinado, como veremos a seguir. Inicialmente os atletas realizaram dez tiros de cinco metros sendo determinado um tempo entre quatro a seis segundos. Após foram executados oito tiros de dez metros onde o tempo era de seis a oito segundos. Consecutivamente os seis tiros de vinte metros tinham que estar entre oito a doze segundos. Os quatro tiros de cinqüenta metros entre doze a dezesseis segundos. Finalizando os dois tiros de cem metros tinham que estar de dezesseis a vinte segundos.

Verificando todos os tiros os atletas percorreram seiscentos e cinqüenta metros com um tempo variando entre duzentos e dezesseis a trezentos segundos. Entende-se que mil metros em formas de sprints podem ser executados em noventa minutos de jogo, já este trabalho realizado, faltou aproximadamente trezentos e cinqüenta metros para atingir esta marca, sendo que este foi executado em aproximadamente quarenta minutos de treino, tempo bem inferior ao verificado pela literatura.

Nota-se que este tipo de treinamento é fundamental para o futebol, devido à importância que tem a velocidade para este e por mostrar que esses exercícios irão melhorar a capacidade de velocidade dos atletas, incluindo os tiros de até cem metros, por melhorar a capacidade anaeróbia dos atletas, mesmo sabendo que em uma partida os jogadores não irão executar sprints nessas distâncias, mas encontrando maior facilidade no momento de executar tiros mais curtos.

d) Exercícios de contra-ataque / ataque x defesa: No período preparatório pré-competitivo, quando se aproxima da temporada, deve-se começar o trabalho com treinamentos específicos com bola de ataque contra defesa objetivando movimentação de jogo e finalização com precisão ao gol (MELO, 2001, p. 29). A somatória deste trabalho resulta em especificidade para os jogadores ofensivos que tem que puxar um contra-ataque em velocidade procurando fazer o gol e para os jogadores defensivos que em menor número tem que procurar evitar este gol, exigindo a capacidade anaeróbia por ser um trabalho em alta velocidade, capacidade técnica por ser um trabalho com bola e capacidade tática tentando os jogadores ofensivos superar o bloqueio dos defensores, já os defensores por tentar interceptar a bola destes.

e) Pliometria básica: Para obter sucesso com a pliometria no programa de treinamento é necessário que a escolha dos exercícios deva ser refletida nas demandas específicas da modalidade esportiva e a técnica da execução deve ser de maneira correta do padrão do movimento. Um programa de pliometria deve durar entre oito a dez semanas, com duas sessões semanais de treino, sendo que a integração entre o treino pliométrico e o treino de força é o mais importante, necessitando um nível básico de força antes para que tenha durante o treinamento o efeito desejado (COUTINHO, 2008).

Devido ao tempo de dez dias de pré-temporada torna-se impossível o tempo de trabalho desejado pelos autores citados acima, porém todos os trabalhos realizados de pliometria tiveram antes o auxílio da musculação e no trabalho de saltos houve também as variabilidades laterais, frontais e trás, inicialmente com os dois pés tocando ao mesmo tempo sobre o solo e após alternando as pernas.

f) Oito tiros de mil Metros: Gomes e Souza (2008, p. 30) entendem que o treinamento intervalado com tiros de mil metros tem como objetivo a melhora da resistência anaeróbia lática dos atletas, fundamental para se trabalhar no período preparatório. No mesmo caminho Frisselli e Mantovani (1999, p. 194) afirmam que para que isso ocorra, todos os tiros realizados não devem ultrapassar cinco minutos, sendo que o intervalo de recuperação não devendo passar do mesmo tempo. Todos os atletas executaram os oito tiros com o tempo ficando entre três minutos e vinte segundos a quatro minutos, com um intervalo de cinco minutos entre um tiro e outro, observou-se que o tempo foi suficiente para a sua recuperação de alcançar os tiros seguintes entre esses volumes. Com um período curto de pré-temporada, nota-se que o treinamento intervalado é de fundamental importância e, para o aperfeiçoamento da resistência anaeróbia lática, o trabalho de tiros de oitocentos metros com um intervalo de recuperação de três a quatro minutos seria necessário para o desenvolvimento desta.

f) Exercícios de propriocepção: Na pré-temporada, exercício de propriocepções tem como objetivo inventar o máximo de situações diferentes de desequilíbrio do atleta para que haja posteriormente o equilíbrio. Este treinamento serve como uma fase de proteção específica, contando que o modo ideal do exercício deve ser de ritmo alternado, com as superfícies de execução e as posições de simulações dos gestos do jogo, tendo como principal objetivo à integralização dos movimentos globais e específicos dos gestos do futebol (FILHO, 2008). Exercícios proprioceptivos devem ser executados duas vezes por semana com uma duração de quarenta minutos aproximadamente em um período de três semanas antes do período de competições, isso trará benefícios de fortalecimento muscular e equilíbrio corporal (WEINECK, 2000, p. 112).

Nota-se que apesar do futebol ser praticado na grama, muitos trabalhos podem ser feitos em outros ambientes, um deles podendo ser feito na areia. Gomes e Souza (2008, p. 190) explicam que este melhora a estabilidade, ganho de força e resulta em plena conscientização do corpo.Isto relata a importância da junção do trabalho de propriocepção na areia com bola, trazendo benefícios na parte física e técnica, formando fundamentos para o início da preparação tática.

g) Treinamento específico por posição: Leal (2000, p. 34) entende que o treinamento específico para os zagueiros deve-se exigir exercícios físicos e técnicos que trabalhem com impulsão, velocidade explosiva e continuada, capacidade de recuperação e força, já para os armadores, exercer fundamentos com grande capacidade orgânica, resistência, coordenação e agilidade e, os atacantes com força explosiva e cabeceio devendo possuir um bom poder de finalização.Os treinos específicos por posição devem ser: para os laterais de marcação, condução de bola em velocidade e cruzamentos; para os zagueiros de marcação, antecipação, cabeçada e rebatidas; meio de campo passe, drible, marcação e finalização e atacantes chute, cabeçada, domínio e drible (MELO, 1997, p. 114). Isto mostra que, a especificidade do atleta, trabalhada de acordo com a posição, poderá trazer bons resultados devido ao futebolista já estar preparado para o possível estresse que sofrerá no decorrer da partida, porém se no momento do jogo ele sofrer algum improviso em outra posição e ele não estiver preparado para o momento, toda uma equipe poderá sofrer a conseqüência podendo ser um dos motivos a falta do controle específico daquela posição.

h) Coordenação e saltos: A coordenação e saltos para os futebolistas devem ser incrementados nos treinamentos devido à conseqüência disso que será o aperfeiçoamento da execução dos fundamentos técnicos e das explosões de força. Para jogadores de alto nível o número de saltos em uma pré-temporada, calculando aproximadamente um mês, deve variar entre quatrocentos a quatrocentos e cinqüenta saltos podendo variar em saltos no lugar, em altura, sobre barreira e em profundidade (COUTINHO, 2008). Melo (2001, p. 42) enfatiza que a coordenação no futebol só trará efeito ao atletas se eles estiverem motivados para aprender, que sejam intransingentes no cumprimento dos aspectos de execução e que atendam aos feedbacks dados pelo treinador com o objetivo de corrigir as suas execuções.

i) Treinamento tático: A preparação tática foi desenvolvida no sexto e décimo dia de pré-temporada, tendo como objetivo o treinamento específico de todos os jogadores em suas posições específicas com e sem a posse da bola, servindo como um treinamento para ser aplicado durante as partidas de toda uma temporada.

Brunoro e Afif (1997, p. 180) afirmam que o sucesso da tática em um jogo seria a repetição desta nos treinamentos, mas para que isto não se torne desgastante as repetições devem ser trabalhadas com exercícios diferentes para que assim não se torne um treino cansativo e desmotivante para os atletas.

Verificou-se, nesta pré-temporada, que o treinador utilizou nas duas vezes em que deu este tipo de treinamento, uma análise da tática que seria aplicada em uma planilha para que, posteriormente, após todos compreenderem o porquê e o objetivo deste trabalho, praticar isto no campo. Para isso, Gomes e Souza (2008, p. 38) relatam que a preparação tática está longe da desejada pelo treinador nos primeiros meses de temporada, que durante as competições deve ser trabalhada isto servindo como uma lapidação para a mesma. Devido à falta de tempo, torna-se impossível o trabalho tático com os jogadores partindo do seu ponto físico e tático ideal, devido a limitação do calendário brasileiro e do pouco tempo de preparação conseqüentemente.

j) Amistosos: Neste período os amistosos são fundamentais para o processo de treinamento e Barros e Guerra (2004, p. 244) afirmam que isso traz menos ansiedade para os jogadores para que comece o campeonato, conhecimento do treinador com os atletas e conhecimento de todo um resultado trabalhado anteriormente para a temporada.Amistosos devem ser realizados pelo menos uma semana faltando para o início das competições tendo um descanso de no mínimo três dias e é importante que o treinador utilize todos os jogadores que ele tem disponível para a primeira partida (GOMES; SOUZA, 2008, p. 176). Melo (2001, p. 46) considera importante que os amistosos marcados na pré-temporada sejam com equipes inferiores à sua para que sua equipe comece o campeonato motivado vindo de vitórias em amistosos, fato que pode influenciar no psicológico do atleta.

Neste caso os amistosos ocorreram em dois momentos, no sétimo dia de preparação e no nono dia, fato este último que não teve um intervalo de três dias para o início do campeonato, nem entre um amistoso e outro, mas ambos os jogos contra equipes consideradas inferiores em relação ao seu plantel, onde todos os atletas que estavam a disposição de disputar a primeira partida oficial da temporada jogaram pelo menos um tempo de jogo.

Força muscular: O trabalho de força muscular serve como um auxílio para a preparação física do futebol das resistências aeróbias e anaeróbias. O trabalho com setenta e cinco por cento da carga máxima com repetições entre oito a doze significa um exercício de recuperação ativa dos músculos e contribui para a melhora da coordenação neuromuscular aumentando ainda a força por meio do acréscimo da massa muscular. Já se for trabalhada com noventa por cento da carga máxima é um exercício que serve exclusivamente para a melhora da potência. Em todos os trabalhos de força muscular executados com noventa por cento da carga máxima foram realizados após, treinamento de explosões buscando um aumento da potência, já para setenta e cinco por cento da carga máxima foi desenvolvido após um amistoso com o objetivo da regeneração, fazendo com que a recuperação muscular seja mais rápida.

Análise dos sistemas aeróbio, anaeróbio e misto: Com base nos treinamentos realizados neste período, pode-se entender que das dezessete sessões de treinos que tiveram, quatro foram a resistência aeróbia (corrida de quarenta minutos, exercícios proprioceptivos, musculação com setenta e cinco por cento da carga máxima e hidroginástica), quatro a resistência anaeróbia (musculação com força máxima, tiros de até cem metros, oito tiros de mil metros e musculação com noventa por cento da carga máxima) e as demais a resistência mista (soccer test, jogos em espaço reduzido, pliometria básica, coordenação e saltos, treinamentos técnicos, treinamentos táticos e amistosos).Verificou-se, que a predominância do treinamento na pré-temporada foi trabalhada a resistência mista e o restante dividido entre as resistências aeróbias e anaeróbias. No período de preparação para toda uma temporada, deve-se dar ênfase ao trabalho unido das resistências aeróbias e anaeróbias para assemelhar-se a uma partida de futebol, onde as duas resistências não se encontram separadas, o atleta deve ter um bom condicionamento anaeróbio, porém agüentando durante todos os noventa minutos de jogo (WEINECK, 2000, p. 15).

Considerações finais

De acordo com os treinamentos realizados a porcentagem do treinamento aeróbio e anaeróbio foi de 23% (vinte e três e meio por cento) cada um e 53% (cinqüenta e três por cento) do treinamento misto, onde se trabalhou as duas resistências juntas. O sistema anaeróbio deve ser treinado após um período de treinamento aeróbio que servirá como base para o aprofundamento do treinamento físico específico. A predominância no treinamento físico da pré-temporada deve ser a resistência mista, pois é o que mais se assemelha a uma partida de futebol, onde os atletas devem trabalhar durante os noventa minutos fundamentos de velocidade, tiro, mudanças de direção, força explosiva e máxima durante este tempo.

O período de pré-temporada não foi considerado ideal devido ao pouco tempo de preparação da equipe, em dez dias de trabalho o atleta encontra-se ainda muito debilitado para suportar toda uma temporada que estará por vir onde à carga de trabalho é longa e intensa. Em uma pré-temporada de dez dias deve-se objetivar a resistência aeróbia, pois em pouco tempo de trabalho realizar exercícios de resistência anaeróbia pode criar condições de os atletas terem grandes riscos de lesões musculares, esta devendo ser trabalhada durante o começo da temporada nas rodadas iniciais.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O que é velocidade no futebol?


O que é velocidade no futebol?
Algumas considerações a partir do pensamento do treinador português José Mourinho
Equipe Universidade do Futebol
Tanto um especialista, profissional do futebol, como o leigo ou um simples torcedor, sabem que a velocidade é hoje um componente fundamental para o sucesso nesta modalidade esportiva.

Entretanto, é preciso entender o que, de fato, representa a velocidade numa partida de futebol.

José Mourinho, o inteligente treinador português que comanda a Inter de Milão, da Itália, nos dá o tom para entendermos este assunto sob outro ângulo.

Ele sugere imaginarmos o homem mais rápido do mundo, que faça 100 metros em menos de 10 segundos, jogando uma partida de futebol - no caso, o jamaicano Usain Bolt, atual recordista olímpico e mundial. Nenhum jogador de futebol profissional é capaz de igualar esta marca.

Porém, em uma partida, 11 contra 11, Mourinho acredita que o recordista de 100 metros seria lento, pois não saberia ler o jogo e tirar proveito de sua velocidade. E explica, fazendo um contraponto e dando o exemplo do jogador Deco, brasileiro naturalizado português, com passagens por Porto, Barcelona e que compõe o grupo do Chelsea.


Quem é José Mourinho


Mourinho argumenta que se colocássemos o meio-campista, com quem já trabalhou na agremiação lusitana, em uma corrida de 100 metros com homens do atletismo, ele faria uma figura ridícula pela lentidão. Mas no campo de futebol, trata-se de um dos jogadores mais rápidos, porque velocidade pura não tem nada a ver com a velocidade nesta modalidade.

E complementa: "a velocidade no futebol tem a ver com análise da situação de jogo, com as reações rápidas aos estímulos, como a correta posição no campo, a posição da bola, o antecipar de uma ação e o saber ou perceber o que o adversário vai fazer, entre outros detalhes".

Por isso, Mourinho conclui que trabalhar qualidades individuais, como a velocidade, por exemplo, descontextualizadas da complexidade do jogo, é um grave erro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Velocidade: os tipos dessa capacidade e os fatores determinantes



As formas elementares e complexas das capacidades de velocidade são muito específicas e, via de regra, independentes uma da outra
Equipe Universidade do Futebol
A capacidade de velocidade do desportista engloba o conjunto das características funcionais que garantem a realização das ações motoras em um tempo mínimo. Na manifestação das capacidades de velocidade, destacam-se as formas elementares e as complexas.

As primeiras apresentam-se no tempo latente das reações motoras simples e complexas, na velocidade de realização dos exercícios isoladamente, diante de resistências externas insignificantes, e na frequência dos movimentos. A operacionalidade do mecanismo neuromotor e a capacidade de mobilização rápida das articulações na ação motora são os dois principais fatores determinantes dessa forma elementar.

O fator inicial é exposto, em grande parte, geneticamente e seu potencial para aperfeiçoamento é insignificante. Já o segundo, tem melhores possibilidades de melhoria pelo treinamento e apresenta-se como reserva básica para desenvolvimento de formas elementares. Por conta disso, a rapidez da ação motora é garantida, em grande medida, pelo ajuste do aparato motor à condição de solução da tarefa e pelo controle da coordenação muscular que permite a utilização completa das capacidades do sistema neuromuscular do desportista (Verkhochanski, 1998; Wilmore e Costill, 2004).

Na esfera esportiva, o tempo latente da reação simples, com frequência, ultrapassa o tempo de ação dos estímulos externos. Por exemplo, o tempo do voo da bola no pênalti e as ações de velocidade de boxeadores, esgrimistas e jogadores de vôlei, são completados em menos de 100ms, enquanto as fixações visuais podem durar 500 a 600ms e dependem da complexidade perceptiva (Keller, 1987).

Nos casos citados, naturalmente, o desportista não tem condições de usar uma reação simples para responder aos sinais de caráter auditivo, tátil, proprioceptivo ou misto.

A eficácia e a objetividade desse tipo de reação – especialmente nos jogos – podem ser explicadas pela antecipação. Isso significa que o atleta reage não em virtude do surgimento deste ou daquele estímulo, mas de acordo com a previsão (temporal ou espacial) que faz sobre o início ou surgimento de um sinal para suas próprias ações antecipando o momento e o local da ação do adversário ou parceiro. O movimento de um atacante, na visão de um zagueiro, ou a posição da bola, em relação ao goleiro, são dois exemplares.

A reação antecipada é uma das formas de previsão realista, qualidade muito importante para o rendimento da atividade do atleta em interações complexas e rápidas. Já as reações imediatas e de antecipação podem ser simples ou complexas.

As formas complexas subdividem-se em disjuntivas (pela seleção excludente) e diferenciadas. No caso, a reação de um jogador de futebol (chute ao gol ou passe para o companheiro) é um desses pontos elucidativos, pois não é possível efetuar os dois procedimentos concomitantemente.

Na reação diferenciada, um dos tipos de resposta mais complexos, há exigência de um grande esforço de atenção para escolha rápida da ação adequada e, às vezes, para interrupção de uma resposta já iniciada ou mudança de uma ação para outra.

As formas complexas de manifestação das capacidades de velocidade nos atos motores complexos próprios da atividade do treinamento e das competições de várias modalidades dependem da combinação das formas elementares entre si e de sua interação com outras capacidades motoras e habilidades técnicas. Essas manifestações complexas estão relacionadas à capacidade de atingir um alto nível de velocidade em distância, às perícias de acelerar rapidamente na largada, de realizar rapidamente os movimentos necessários ao desenrolar da disputa competitiva.

Uma das condições básicas das manifestações complexas das capacidades de velocidade é a mobilidade dos processos nervosos que se manifesta no aperfeiçoamento dos processos de estimulação e inibição das diferentes seções do sistema nervoso e o nível da coordenação muscular (Narici ET AL., 1989; Sale, 1992).

O nível das capacidades de velocidade é influenciado também pelas particularidades do tecido muscular – proporção de cada tipo de fibra muscular, elasticidade do tecido, capacidade de distensão e nível de coordenação intra e intermuscular (Alexander, 1988; Huijing, 1992). A manifestação das capacidades de velocidade dos atletas está estreitamente relacionada também ao nível de desenvolvimento da força, da flexibilidade e da capacidade de coordenação (Caiozzo et AL., 1981; Wilmore e Costill, 2004), ao aperfeiçoamento da técnica desportiva, à capacidade dos mecanismos bioquímicos de mobilização rápida e ressíntese dos fornecedores anaeróbios aláticos de energia e ao nível das qualidades volitivas.

Entre todos esses fatores, ocupa papel de destaque o percentual das fibras CRa e CRb no tecido muscular que suporta a carga principal na modalidade desportiva praticada, ou seja, o percentual das fibras diretamente relacionadas ao nível das capacidades de velocidade.

Variadas habilidades e qualidades localizadas, que determinam o nível de desenvolvimento das capacidades de velocidade complexas e o potencial de aperfeiçoamento de muitas delas em resultado do treinamento especializado, predeterminam as chances de progresso real das formas complexas de manifestação das qualidades de velocidade (Hauptmann, 1994; Platonov, 1997).

No desporto atual – em especial o futebol –, em que há necessidade de manifestação máxima das capacidades e qualidades de velocidade, destacam-se três regimes de trabalho de velocidade: acíclico, caracterizado pela manifestação de momentânea do esforço explosivo concentrado; de aceleração no impulso da saída, manifestado na intensificação rápida da velocidade com o objetivo de atingir seus indicadores máximos no menor espaço de tempo; de deslocamento, relacionado à manutenção de determinada velocidade num trecho específico (Verkochanski, 1988).

As formas elementares e complexas das capacidades de velocidade são muito específicas e, via de regra, independentes uma da outra. Os indicadores do tempo de reação não estão relacionados aos indicadores da velocidade dos movimentos. Por isso é necessário um enfoque diferenciado para o aperfeiçoamento de cada capacidade de velocidade, com base em um grupo de meios e métodos orientados para a seleção das formas elementares (tempo de reação, velocidade de realização dos movimentos únicos e frequência dos movimentos), o nível de velocidade em distância e a capacidade de aceleração rápida na largada.

Bibliografia

PLATONOV. V.N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.

Correlação entre o teste de agilidade com e sem bola em jovens praticantes de futebol


A capacidade precisa ser constantemente aprimorada em jogadores de todas as posições dentro de campo
Fernando C. dos Santos, João Guilherme Cren Chiminazzo
O futebol é um dos esportes mais conhecidos do mundo. É um esporte dinâmico que vem crescendo assustadoramente na questão tática, na técnica e especialmente em relação ao desempenho físico dos atletas.

A técnica busca o aprimoramento máximo dos fundamentos da modalidade, busca a realização de um movimento específico, com maior eficiência diante de um menor gasto energético.

Dentro dos fundamentos técnicos do futebol, temos a condução de bola que é o ato de se deslocar pelo campo de jogo com a posse de bola. Entre as principais capacidades físicas utilizadas no futebol temos a agilidade, capacidade muito importante para o futebol devido às atitudes curtas em relação ao seu tempo, algo que sem dúvida pode alterar resultados de partidas. É a capacidade na qual todos os jogadores, independente de sua posição, necessitam de aprimoramento. Durante as partidas, essa agilidade pode ser executada com a posse de bola ou sem a posse de bola.

O objetivo principal dessa pesquisa foi identificar a relação entre agilidade com e sem bola em jovens praticantes de futebol. Como objetivo secundário, pretende-se verificar o déficit técnico, que é a diferença entre o menor tempo de realização sem bola dividido pelo menor tempo de execução com bola.

Para obtenção dos resultados foi aplicado o Illinois Agility Test (Roozen, 2004 apud MARIA; ALMEIDA; ARRUDA, 2009), que avalia agilidade com e sem bola em jogadores de futebol.(foto acima)

Foram avaliadas trinta e seis crianças (10,4±1,2 anos), do sexo masculino, todos devidamente matriculados em uma escola de futebol da cidade de Mogi Mirim-SP, com uma média de 1,2 ± 0,8 anos de prática de futebol.
As médias apresentadas para o teste de agilidade sem bola (19,4±1,02) e o teste de agilidade com bola (26,9±3,3 segundos) apresentaram diferenças significativas (p< 0,05) e correlação fraca (r = 0,35).

Já os resultados de déficit técnico são satisfatórios. A média do grupo foi de 73%, os valores são analisados em porcentagem e a criança que apresentou maior déficit técnico obteve 56% de aproveitamento. Já a criança que melhor desempenhou a atividade obteve 91%.

Podemos concluir nesse estudo, que não há relação significativa entre o teste de agilidade com e sem bola. De acordo com os resultados de déficit técnico, nenhuma criança ficou abaixo dos 50%, e verifica-se que todos os sujeitos perdem um pouco de rendimento na agilidade quando colocado o componente bola. Portanto, é importante que os professores desenvolvam, nas aulas e nos treinos, atividades de agilidade com e sem a posse de bola, para que o aproveitamento não diminua.

Bibliografia

MARIA, Thiago S.; ALMEIDA, Alexandre G.; ARRUDA, Miguel. Futsal Treinamento de Alto Rendimento. São Paulo - SP: Phorte, 2009.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

BUSCA da Recuperação Muscular no Pós-treino


Importância do carboidrato na reposição muscular após o exercício

Uma dieta deficiente em carboidratos reduz rapidamente o glicogênio muscular e hepático e, subseqüentemente, reduz o desempenho nos exercícios intensos e de curta duração, assim como nas atividades prolongadas.

A redução do conteúdo das reservas de glicogênio (muscular/hepática) está associada à ocorrência de fadiga. Para melhorar a performance, os CHO são consumidos antes, durante e depois do exercício.A reposição do glicogênio utilizado após o exercício é um aspecto fundamental na recuperação da capacidade de endurance. A preocupação quanto ao tipo, freqüência e quantidade do consumo de CHO merece atenção, principalmente quando o indivíduo necessita de reposição rápida do estoque (entre 4 a 6 horas). Quando a reposição é considerada no contexto de 24 horas após o exercício, essas preocupações quanto a particularidades na administração do carboidrato, em geral, não se justificam.

Dada a importância dos carboidratos para a performance de exercícios aeróbios de longa duração, recomenda-se que indivíduos que se exercitam regularmente devam consumir uma dieta entre 55%- 70% de seu total calórico na forma de carboidratos.

Quanto ao tipo de carboidrato a ser consumido, glicose e sacarose são os que possuem a maior capacidade de repor glicogênio muscular quando comparados com a frutose, nas 6 primeiras horas após o exercício em virtude de seu elevado índice glicêmico. Essas refeições se revelam extremamente eficazes com uma dose de 0,7 g/Kg de peso corporal, quando feitas a cada duas horas, no transcorrer das seis horas após o exercício.



O crescimento muscular ocorre em três fases:

1. Estimulação: O stress, causado durante o treinamento pelas sobrecargas metabólicas e tensionais, provoca microlesões nos músculos envolvidos que caracterizam a estimulação.



2. Recuperação: envolve tanto a reparação dessas microlesões como também o restabelecimento energético num patamar superior ao anterior. Esta fase de recuperação é fundamental para o desenvolvimento muscular afim de se preparar para estímulos subseqüentes mais intensos. Se o atleta não estiver completamente recuperado e houver fornecimento de nova sobrecarga, a musculatura responderá de maneira negativa desfavorecendo o desenvolvimento muscular. Em se tratando do treinamento de hipertrofia muscular, acredita-se que a recuperação ocorra entre 48 e 72 horas, considerando uma alimentação adequada e outros fatores, tais como o descanso.



3. Crescimento: O processo de crescimento muscular, portanto, ocorre em sua maior parte não durante o treinamento e sim no período de descanso.A síndrome do overtraining se manifesta primariamente no sistema nervoso, depois alcançando o sistema muscular.



Recuperação pós-exercício:

Imediatamente após o exercício: 1 a 2 horas após do treino, os músculos que estavam ativos se preparam para restabelecer a energia gasta e maximizar a entrada de nutrientes. Este é o estado em que o corpo se encontra mais receptivo à absorção e armazenamento de energia.

Geralmente o corpo experimenta uma diminuição natural de insulina circulante durante o exercício, esta situação é superada por uma mudança nas células do músculo exercitado. Acredita-se que durante o exercício físico uma determinada proteína presente na membrana da célula é ativada por gatilhos de receptores de insulina, permitindo que a glicose entre na célula sem depender da insulina, este fenômeno é conhecido como fase insulino-independente.Esta fase ocorre até duas horas após a atividade física.

Quando consumimos um alimento, a insulina é lançada no organismo, mas quando é lançada na fase insulino-independente teremos dois mecanismo que agem para levar nutrientes para as células do músculo trabalhado. Ambos os processos fazem com que os nutrientes entrem nas células mais rapidamente, neste período importante para a recuperação.

Estudos demonstram que uma dieta adequada em carboidratos e proteínas cria uma resposta insulínica mais eficiente na recuperação do glicogênio muscular e para o anabolismo.



Síntese de glicogênio muscular

Em média, apenas 5% do glicogênio muscular utilizado durante o exercício é ressintetizado a cada hora após o exercício. Da mesma forma, para que a restauração seja total, são necessárias pelo menos 20h após a prática de exercícios intensos, desde que sejam consumidos carboidratos em quantidades adequadas.

Durante dias consecutivos de competição, ou de treinamento intenso, recomenda-se que os atletas consumam carboidratos entre 15 a 30 minutos após o exercício com porções adicionais a cada 2-3h.

No caso de treinos de endurance, a restauração do glicogênio muscular é um fator fundamental para o rápido restabelecimento da capacidade de realizar o exercício. Mesmo sem a ingestão de carboidratos, a reposição do glicogênio muscular pode ocorrer a partir da reutilização do lactato produzido durante o exercício intenso (o processo de recuperação ativa potencializa essa conversão). Acredita-se, porém, que a contribuição do lactato é pouco significativa para a recuperação do glicogênio muscular como um todo.



Referências bibliográficas

TERJUNG, Ronald L. Adaptações Musculares ao Treinamento Aeróbio. Gatorade sports science institute sports science exchange 14. Novembro/Dezembro - 1997.

COYLE, Edward F. Carboidratos e Desempenho Atlético. Gatorade sports science institute sports science exchange 09. Janeiro/Fevereiro - 1997.

RANKIN, Janet Walberg. Efeito da ingestão de carboidratos no desempenho de atletas em exercícios de alta intensidade. Gatorade sports science institute sports science exchange 30. Julho/Agosto/Setembro - 2001.

BACURAU, Reury Frank. Nutrição e suplementação esportiva-, Phorte Editora, 2000.

KATCH, Frank I. & MCARDLE, William D. Nutrição, exercício e saúde., Ed Medsi, 4ªed, 1996.