quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Utilização dos exercícios em cadeia cinética fechada no futebol


Escolha das atividades em treinamento de força pode ser o diferencial no decorrer de uma competição, buscando sempre especificidade e funcionalidade
Rafael Martins Cotta*
A Copa do Mundo foi uma amostra de como o esporte está igual no que se diz respeito ao condicionamento físico. Equipes disputando minuto a minuto o resultado, tendo estas tradição no esporte ou não. Sabemos também que o futebol é uma das únicas modalidades que não podemos dizer antes do final da partida quem será o vencedor. O treinamento físico tem deixado os atletas em condições semelhantes, principalmente quando falamos de uma capacidade física tão importante como a força.

Sabemos que para se treinar esta capacidade devemos recorrer aos exercícios resistidos e logo pensamos nos aparelhos de musculação. Porém, seria mais inteligente da nossa parte se pensássemos na especificidade dos movimentos que os atletas realizam para realização de suas funções dentro da competição. Quais as articulações e músculos exigidos numa ação específica e como ela é realizada quando solicitado e qual o ou quais os exercícios que serão realmente importantes para que haja uma maior transferência para o gesto motor no momento mais importante do processo que é o jogo.

¹Entende-se por cadeia cinética a combinação de várias ações articulares que unem segmentos sucessivos, podendo esta ser dividida em aberta e fechada. Em cadeia cinética aberta (CCA) o segmento distal está livre para se mover e o movimento é produzido pela contração do agonista, a origem é fixa e a contração muscular produz movimento na inserção. Já em cadeia cinética fechada (CCF), o segmento distal está fixo e as partes proximais se movem, o movimento é funcional onde a suporte de peso com contração de ambos os grupos musculares (agonistas e antagonistas (CO-CONTRAÇÃO)), oferece propriocepção onde provê informação relacionada ao movimento, posicionamento, velocidade e aceleração articular e tensão músculo tendínea; seus exercícios para os membros superiores são usados para controle neuromuscular dos músculos que atuam para estabilizar a cintura escapular e realizam fortalecimento como os apoios e pranchas.

²Estudos biomecânicos relatam que os exercícios em cadeia cinética fechada oferecem uma maior segurança produzindo menos forças e estresses às estruturas que estão envolvidas no processo de reabilitação do que os exercícios em cadeia cinética aberta.

De acordo com as definições acima, começamos a entender o porquê das vantagens em se aplicar o treinamento em CCF. Abaixo vou expor alguns pontos que relevam o treinamento de força em CCF:

1. Os exercícios em CCF são funcionais;
2. Os exercícios em CCF são multiarticulares, ou seja, ao simular o movimento específico envolvem mais de uma articulação na execução do exercício;
3. Um conhecido exercício em CCF é o agachamento, que simula um salto que consequentemente é um excelente estimulador da potência muscular trabalhando os componentes elásticos;
4. Oferecem propriocepção sendo estes também exercícios preventivos trabalhando o sistema sensório motor através da geração de instabilidade;
5. Seus exercícios para membros superiores fortalecem o core que terá grande eficácia na prevenção de lesões e oferecerá uma maior sustentação para esta região na execução dos exercícios de agachamento, afundo, etc;
6. Para sua realização necessita-se apenas de barras, anilhas e halteres, onde estes podem ser levados para o campo com maior facilidade e oferecer uma maior e mais rápida transferência.

O treinamento em CCF deixa mais específica as sessões de treinamento de força, porém temos que conhecer nossos atletas para sabermos em que nível de movimento eles estão para poder ou não realizar determinados exercícios em CCF, e se tem ou não capacidade de suportar altos pesos como por exemplo num trabalho de força máxima. Fortalecer o core e as articulações através do sistema sensório motor são primordiais no treinamento e treinar em CCF favorece esses ganhos.

Exercícios como o meio-agachamento, agachamento profundo, avanço, afundo, recuo, agachamento sumô, stiff e agachamento lateral são exemplos de CCF, pois realizam movimentos semelhantes ao da modalidade, fortalecem músculos solicitados nos movimentos e trabalham de uma forma toda a região inferior. Como já descrito acima, os exercícios em CCF para os membros superiores têm grande importância com relação à prevenção no processo de treinamento.

A sua periodização pode ser composta por estes exercícios trabalhando com a ajuda de diferentes métodos para o ganho de força, em que para ganho de resistência de força podemos utilizar trabalhos em circuito por tempo (aproximadamente 30 segundos) ou 8-12 repts para hipertrofia e mais de 12 para resistência muscular - até três séries são necessárias para os ganhos de força de acordo com o período de preparação, no qual as pausas entre as séries devem ser determinadas de acordo com a intensidade do treino e o objetivo; para ganho neural visando aumentar o recrutamento de unidades motoras num trabalho de força máxima podemos utilizar aproximadamente oito séries (dependendo do número de exercícios) com até seis repts com 80 a 95% de uma ação voluntária dinâmica máxima mediante o teste, pausando de três a cinco minutos visando recuperar completamente as fontes energéticas, para ganho de potência podemos utilizar agachamentos com saltos utilizando como peso até 5% do peso corporal e também os exercícios de LPO (Levantamento de peso olímpico), como arranque e arremesso.

Pode-se também enriquecer este trabalho gerando mais instabilidade nos exercícios através de equipamentos simples, como o disco de instabilidade, pranchas de equilíbrio, camas-elásticas, balancins, etc., nos quais realizamos o exercício em cima destes deixando o mesmo mais difícil e conseqüentemente obtendo maiores ganhos.

Concluindo, é importante que antes de aplicar estes exercícios em nossos atletas, precisamos conhecer o grupo que temos em nossas mãos e verificar se os mesmos estão aptos a receber este tipo de treinamento ou se os mesmos precisarão ser submetidos a um período de adaptação para que futuramente o mesmo seja aplicado com mais eficácia. Os exercícios em CCF são seguros, porém requerem severo acompanhamento do/s preparador/res físico/os. Com a correção da postura, menos riscos de lesões, algo muito importante.

Referências

¹http://www4.fct.unesp.br/docentes/fisio/masselli/2ano/6%20aula.pdf
²Técnicas de Reabilitação em Medicina Esportiva - William E. Prentice - 3 edição

*Preparador físico do E.C. Santo André (categorias de base) / Centro de Formação e Treinamento de Futebol

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