sexta-feira, 28 de maio de 2010

Novas tendências em pedagogia do esporte: a abordagem tradicional

A pedagogia tradicional e sua visão tecnicista impedem o desenvolvimento intelectual dentro de campo
Esta é a segunda crônica, de uma série de quatro, em que procurarei apresentar os pontos básicos destacados pelas principais correntes e autores da pedagogia do esporte, que dedicam seus trabalhos à superação da abordagem tradicional de ensino e treinamento de esportes.

Neste texto em particular, quero me ater na explicação do quadro apresentado na primeira crônica da série. Logo, explicarei o quadro esquemático e sintético referente à pedagogia tradicional de ensino dos esportes.

Sendo assim, posso destacar que a abordagem tradicional de ensino em pedagogia do esporte é totalmente centrada no ensino da técnica. Ou seja, vale-se de uma metodologia que defende a idéia de que para aprender a jogar (esportes) é necessário primeiramente dominar certo número de movimentos estereotipados e classificados como universais: os fundamentos técnicos das várias modalidades esportivas.

Escrevi certa vez que essa perspectiva perpassa a idéia de que para se compreender algo como um todo, é necessário dividi-lo em partes e estudar as suas partes separadamente, para só depois juntar as partes estudadas, tendo desse modo uma melhor compreensão do todo.

Nesta concepção, se o objetivo é aprender esporte, as mais eficientes metodologias serão aquelas que fragmentarem o processo de ensino dos esportes em partes. Por exemplo, retiram-se os gestos técnicos do jogo e os ensinam de maneira descontextualizada, para ingenuamente depois se pensar em juntá-los para se ter com isso uma melhora no jogo formal.

Destarte, os planos de aulas que se pautam na abordagem tradicional são invariavelmente divididos em três ou quatro partes. Sendo a primeira destinada ao alongamento e aquecimento, para na seqüência ser desenvolvida a parte principal da aula, que deve se resumir a treinos técnicos e, por fim, joga-se o jogo formal. Uma quarta parte, muitas vezes presente, é denominada volta à calma.

Para essa abordagem, o ensino dos esportes se guia pela reprodução de modelos, em que o professor só será capaz de ensinar se dominar perfeitamente os movimentos exigidos pelo jogo. Essa concepção de ensino abre espaço para que se perpetue a idéia de que o melhor professor deverá ser inevitavelmente o melhor jogador (essa idéia, infelizmente, é ainda disseminada nos cursos de formação de Educação Física, principalmente, nas aulas práticas em que se ensina a jogar determinado esporte – seguindo regras oficiais e rígidas – e não se preocupam com o fato de ensinar os futuros professores a ensinar, ou seja, a ser professores e não jogadores).

As aulas tradicionais têm por objetivo então, reproduzir esses movimentos por meio da repetição exaustiva, buscando automatizar os gestos. Em outros termos, formam-se jogadores que repetem movimentos de forma mecânica, caracterizando a produção em série de jogadores (robôs) pré-programados, que devem sair da linha de produção modelados e moldados à forma das vontades e interpretações de alguém (externo ao individuo).

Podemos dizer isso porque esse processo impede que os alunos pensem. Existe até uma máxima divulgada pelos tecnicistas, em que os jogadores iniciantes devem repetir/reproduzir os movimentos até a automação, para que, quando exigidos no jogo, não seja necessário pensar.

Dessa forma, essa pedagogia indiscutivelmente formará (produzirá) excepcionais jogadores no que diz respeito ao domínio de um restrito acervo de habilidades motoras. Assim, por exemplo, corroborando o que já disse, poderíamos dizer que a pedagogia do esporte tradicional produziria excelentes malabaristas com a bola nos pés, nas mãos... e limitados jogadores no quesito resolução de problemas, principalmente em um jogo que exige uma conduta motora diferente e aleatória a cada nova situação desencadeada pelo acaso de sua desordem.

Dando sequência, podemos dizer que a pedagogia tradicional descarta o fato de que, principalmente, nos jogos coletivos seu processo de organização sistêmico não pressupõe uma conduta motora a priori. Ou seja, essa conduta motora é construída à medida que os jogadores interpretam a sempre nova situação problema, e buscam solucioná-la a partir de suas competências e habilidades.

A valorização do gesto técnico eficiente acaba por impedir que os iniciantes jogadores desenvolvam suas respectivas condutas motoras que irão enriquecer suas habilidades, ao mesmo tempo em que desenvolvem competência interpretativa. Nesse sentido, parte-se de um hipotético gesto eficiente em detrimento de um possível gesto eficaz.

Por fim, a pedagogia tradicional exige pré-requisitos, logo é seletiva, pois os alunos que não conseguirem reproduzir os movimentos serão descartados. Assim são os alunos que se adaptam as exigências do treino e não o contrário.

Portanto, ao final do processo teremos cada vez mais jogadores dependentes, que necessitam de respostas prontas dadas por alguém de fora (exterior ao jogo), que deverão ser seguidas sem questionamento, pois sempre foi assim e assim deverá continuar a ser.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Francisco Ferreira, preparador físico do Cruzeiro

Um dos integrantes da comissão técnica fala sobre a estrutura do clube e o futuro de sua profissão
Bruno Camarão
“Ninguém é uma ‘ilha’, ninguém sabe tudo”. A frase que fecha esta entrevista concedida à Universidade do Futebol representa bem a postura do professor Francisco Adolfo Ferreira. Preparador físico do departamento de futebol profissional do Cruzeiro, ele concilia em sua trajetória a experiência real, no convívio com atletas e demais integrantes ligados às Ciências do Esporte, com a base acadêmica, esfera da qual não se desgarrou.

Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ferreira é especialista em Treinamento Esportivo pela Universidade Gama Filho e compôs durante cinco anos o corpo docente da disciplina de futebol da Faculdade Estácio de Sá (MG). Atualmente, coordena pós-graduação nas Faculdades Promove e Funorte. Mas muito antes do desenvolvimento dessas competências já tinha a certeza de que atuaria no futebol.

Chico, como é tratado pelos mais próximos, tem parentes ligados à história da modalidade em Belo Horizonte. Um de seus tios foi preparador físico e técnico das duas maiores forças locais. O outro jogou nas décadas de 1940 e 50 no futebol carioca e também treinou diversas equipes, como Corinthians e Fluminense. Por intermédio do pai, teve a infância delineada com diversas idas ao Mineirão.

No Cruzeiro, agremiação à qual está atrelado há 11 anos, Ferreira tem a parceria dos experientes José Mário Campeiz e Quintiliano Lemos na preparação física do grupo principal. Com integração, respeito e estudo, eles conduzem a equipe celeste às fases decisivas do Estadual e da Copa Libertadores da América.

“Posso dizer que o Cruzeiro foi uma grande escola no sentido de ter permitido a convivência com vários treinadores e preparadores físicos de renome e também a possibilidade de perceber na prática, ao longo desses anos, aquilo que é viável ou não, o que dá certo e o que não dá, de acordo com a cultura do futebol que envolve calendários, grupo heterogêneo de atletas, diferentes escolas, diferenças culturais, aplicabilidade e o casamento entre teoria e prática”, explicou.

Dentre outros temas, Ferreira fala sobre as novas perspectivas do clube, o perfil das categorias de base, elaboração de treinamentos e por que acredita que a função de preparador físico não deverá entrar em desuso em futuro próximo.

“Acredito que a função do preparador físico que trabalhe (também) de forma isolada as valências físicas em vários momentos do calendário seja imprescindível. Ainda não creio que se possa atingir níveis ótimos de performance sem treinar na sala de musculação, sem treinar agilidade, resistência de força, etc.”.

Universidade do Futebol – Além do trabalho no Cruzeiro, o senhor acumula passagens pelo futebol internacional e pelo Minas Tênis Clube. Em primeiro lugar, conte um pouco sobre sua formação e a trajetória no esporte de alto rendimento.

Francisco Ferreira – Sou de uma família de futebolistas de Minas Gerais. Meu saudoso tio Paulo Benigno Ferreira foi o pioneiro da preparação física no futebol mineiro. Treinou aquelas fantásticas equipes do Cruzeiro das décadas de 1960 e 70, depois foi preparador físico e treinador daquele também inesquecível Atlético-MG de 76, 77.

Foi ele quem lançou o Reinaldo, então com 16 anos de idade, na equipe profissional. Outro tio, David Ferreira, o Duque, teve passagens vitoriosas por vários grandes clubes brasileiros. Meu pai, um entusiasta do bom futebol, me levava ao Mineirão desde que me entendo por gente.

Então, não podia dar outra coisa: paixão pelo futebol e pelo esporte, curso de Educação Física, cursos de aperfeiçoamento, início em colégios com futsal e aulas de Educação Física, nas categorias de base, como preparador físico, no Minas Tênis, com musculação e futsal, equipes profissionais, exterior.

Passei também a lecionar a disciplina de futebol no ensino superior, ministrando cursos de especialização e aperfeiçoamento em futebol, preparação física, etc. Tudo dentro de uma sequência que em muito contribuiu para a minha formação e meu aprendizado.
Universidade do Futebol – Como se dá a interação entre a preparação física – o Cruzeiro conta com outros dois profissionais dessa área (José Mário Campeiz e Quintiliano Lemos) – e comissão técnica, departamentos médico e de fisiologia, e com o próprio trabalho realizado nas categorias de base, local onde o Cruzeiro tradicionalmente colhe bons frutos?

Francisco Ferreira – O trabalho no Cruzeiro é integrado. Não existe melindre entre os departamentos e, assim, temos liberdade para opinar, debater, enfim, expressar nossos pontos de vista em busca de soluções que tragam benefícios para o clube.

O Zé Mário e Quintiliano são profissionais do mais alto gabarito. Estamos sempre buscando nos atualizar, sempre antenados no que há de mais moderno. Trabalhamos de modo inter, multi e transdiciplinar. Nosso ambiente é muito bom e temos ótimo relacionamento com todos os setores.

As categorias de base, que já eram referência, darão um salto enorme em breve. Temos profissionais capacitados desenvolvendo projetos importantes e pioneiros na área do futebol. Cito: Eduardo Pimenta, Alexandre Barroso, Daniel Coelho, Roger Galvão, dentre outros.

Universidade do Futebol – O senhor atua há mais de uma década no Cruzeiro. Como avalia a evolução do departamento de futebol do clube mineiro e quais são os benefícios e os pontos negativos de se manter ligado a apenas uma instituição durante tanto tempo? Considera interessante o profissional responsável pelo condicionamento dos atletas acompanhar o treinador ou pensa que ele deveria ficar mesmo atrelado à agremiação?

Francisco Ferreira – O Cruzeiro, que há muito prima pela organização, está sempre buscando inovações em todos os setores, seja na parte administrativa, ou na técnica. O grande responsável por essa modernização é o professor Emerson Silami, fisiologista que veio para o clube em 1990.

Desde então, o Cruzeiro tem promovido o envolvimento com a comunidade acadêmica e conseguido o retorno em conhecimento científico. Somos um grande campo para a pesquisa científica.

Quanto ao fato de permanecer muito tempo num mesmo clube, penso que há como desvantagens o fato de não se conseguir uma projeção maior, o que reflete em menor retorno financeiro e menores possibilidades de se alçar novos voos; como vantagens, há certa estabilidade e um envolvimento e identificação maior com o clube, além de uma maior facilidade de aplicação dos métodos de treinamento.

Posso dizer que o Cruzeiro foi uma grande escola no sentido de ter permitido a convivência com vários treinadores e preparadores físicos de renome e também a possibilidade de perceber na prática, ao longo desses anos, aquilo que é viável ou não, o que dá certo e o que não dá, de acordo com a cultura do futebol que envolve calendários, grupo heterogêneo de atletas, diferentes escolas, diferenças culturais, aplicabilidade e o casamento entre teoria e prática.

Dentre os preparadores físicos, cito alguns com quem trabalhei e trabalho como sendo dos melhores: José Mário Campeiz, Quintiliano Lemos, Antônio Mello e Gilvan Santos.

Sobre a segunda questão, acredito ser um tendência a efetivação das figuras do preparador físico, do treinador de goleiros, etc., assim como já acontece no São Paulo, por exemplo. Esse tipo de filosofia possibilita a aplicação de trabalhos de médio e longo prazo, permite a padronização do trabalho, uma vez que, não havendo a troca constante do preparador físico chefe, a filosofia/metodologia também não muda.





Universidade do Futebol – Qual a fronteira entre a participação do preparador físico no amparo psicológico aos atletas, e o trabalho propriamente dito de um profissional específico da área? Você aborda conceitos de auto-ajuda e neurolinguística no trabalho diário do Cruzeiro?

Francisco Ferreira – Todo profissional do esporte deve ter um pouco de psicólogo. É importante ter feeling para perceber o emocional do grupo de atletas, afinal, jogador de futebol também é gente: se apaixona, fica deprimido, tem problemas de família, etc. Após detectarmos que há alguma coisa afetando o emocional do atleta, chamamos o psicólogo e falamos do caso para que ele faça a abordagem adequada.

Estamos o tempo todo buscando elevar o ânimo dos atletas com palavras de ordem, de comando, de incentivo, de reforço positivo. Outra abordagem muito importante é no campo espiritual, por esta razão acho o trabalho desenvolvido por Atletas de Cristo, por exemplo, muito importante.

Universidade do Futebol – A adaptação fisiológica que o atleta vai ter será específica da posição, ou a própria característica do jogador para o modelo de jogo do treinador o levará a essas particularidades? E como as capacidades do atleta, de uma forma geral, serão relacionadas à forma coletiva, na aplicação do futebol “formal”?

Francisco Ferreira – Há uma seleção natural desde o início, quando o garoto vai fazer testes no clube. Dentro desse processo, há inúmeras variáveis e a história de cada um tem suas peculiaridades. A quase totalidade dos atletas, exceção dos goleiros, claro, muda de posição desde a base até se chegar ao profissional. As adaptações irão ocorrer naturalmente.

Um exemplo interessante que temos notado aqui no Cruzeiro é o perfil cardiorrespiratório dos atletas: se até a década de 1990 os atletas, ao realizarem os testes de lactato e limiar anaeróbio, por exemplo, apresentavam características mais “aeróbias”, com uma velocidade de limiar mais alta, menor FC (frequência cardíaca), sugerindo características mais próximas de um meio fundista: coração grande, predominância de fibras oxidativas, etc. Hoje, percebemos um perfil mais “anaeróbio”, mais velocista, de acordo com as características do futebol atual.

Como a velocidade depende exclusivamente da genética, acredito que a seleção natural está sendo em função dessa valência específica desde a base, ou seja, o jogador lento não terá muitas oportunidades.

É consenso que uma das qualidades de um bom treinador é explorar as melhores características individuais do atleta em prol do coletivo, e não o contrário, tentando adaptar a todo custo o atleta àquilo que o treinador possa exigir de maneira inflexível. Não dá para violentar as características individuais, pois ninguém consegue fazer aquilo para o que não está apto.

Exceção à regra seria o caso de um atleta realmente fora de série, capaz de decidir em lances geniais o resultado das partidas. Nesse caso, o coerente seria criar uma organização de jogo em função desse talento.

Universidade do Futebol – Qual a funcionalidade prática do scout técnico para o desenvolvimento do seu trabalho de campo com os atletas do Cruzeiro?

Francisco Ferreira – Penso que as análises estatísticas são importantes como feedback para o treinamento físico e técnico na medida em que nos fornecem, por exemplo, o número de tiros em suas respectivas distâncias, de saltos, giros, combates individuais, de chutes, cabeceios, etc.

Devemos elaborar o treinamento de acordo com a realidade da prática, senão vejamos: a maioria dos tiros dentro de uma partida de futebol acontecem em distâncias de até 15 metros. Por que dar treinos com tiros de 50 ou 100 metros, então?

Outro exemplo: se o atacante, atleta que mais chuta durante o jogo, realiza em torno de 10 a 12 finalizações, porque dar treinos de finalização com 30, 40 chutes e, ainda por cima, para todos os atletas indistintamente, sem levar em conta a posição?


O que é velocidade no futebol?
Universidade do Futebol – O que diferencia hoje o trabalho entre preparadores físicos no Brasil, já que hoje o conhecimento está muito mais acessível? Existem modelos e métodos diferentes sendo aplicados por diferentes preparadores físicos no nosso país? Isso pode ser o diferencial para que algumas equipes vençam mais do que outras?

Francisco Ferreira – Vejo que o conhecimento está acessível, que muitos profissionais de clubes pequenos conseguem muitas vezes os mesmos resultados em termos físicos para seus atletas em comparação com os atletas de grandes clubes. Percebo, também, que há diferenças culturais, metodológicas, filosóficas que, ao longo dos 11 anos que estou aqui no Cruzeiro, me permitiram ver preparadores físicos dos mais diversos tipos: um gosta de aeróbio e não gosta de musculação, outro é “tarado” por musculação, outro adora a caixa de areia, e por aí vai.

Como o conhecimento está realmente democratizado, o aspecto físico está muito nivelado, assim, o que ganha jogos e campeonatos é uma somatória de detalhes – a organização, a estrutura, o plantel homogêneo de bons jogadores e com pelo menos alguns daqueles ditos diferenciados, os talentos.

Há outros fatores que podem ajudar, como “camisa”, tradição, torcida, força política, etc. No final, fica a máxima de que com grupo bom se ganha, com grupo mais ou menos dá até para fazer boa figura, e grupo fraco não se chega a lugar algum.

Universidade do Futebol – O senhor acompanha o que se vem fazendo na Europa em termos de preparação física? Quais inovações e caminhos a preparação física tem tomado por lá? Nesses centros, treina-se “menos”, ou se treina de modo “diferente”?

Francisco Ferreira – Acompanho muito através dos atletas que retornam da Europa para o Cruzeiro. Eles geralmente dizem que se treina pouco, que os treinos são em sua maioria treinamentos de performance, os famosos jogos em campo reduzido (Balson, 1999).

A última moda no aspecto preventivo são os treinamentos funcionais. Na verdade, eu gostaria muito de poder assistir às sessões de treino aplicadas pelo Mourinho para ver o que ele realmente apresenta de novidade.

Universidade do Futebol – Na Holanda, por exemplo, não há a figura do preparador físico, e sim a do assistente-técnico. Como é a sua relação de estruturação de trabalho com o treinador? Como o treino é estruturado?

Francisco Ferreira – Aqui ainda trabalhamos da maneira tradicional, com os especialistas de cada área dando sua contribuição em prol do grupo de atletas, ou seja, uma comissão multidisciplinar e que saiba trabalhar de maneira inter e transdisciplinar. Cada um traz sua opinião, sua avaliação e entrega àquele que toma a decisão final, o treinador.

Mais uma característica do bom treinador é ter a sabedoria para ouvir, debater e acatar, quando for o caso, a opinião de sua comissão técnica. Aquele que tem a dose certa de autoconfiança e de confiança em sua comissão técnica sai em vantagem.

A elaboração do treino deveria obedecer a inúmeros critérios: calendário de jogos, momento da competição, prioridade de competições, estado físico dos atletas, viagens, tempo para recuperação, contusões, suspensões, convocações, etc.
Universidade do Futebol – Como jogos recreativos e/ou esportes relacionados ao futebol (como o futevôlei e o futsal, por exemplo) podem auxiliar na preparação física do futebol profissional?

Francisco Ferreira – Modalidades derivadas do futebol de campo podem ser um ótimo recurso acessório para a manutenção dos aspectos físico e técnico. No futebol de alto rendimento, o calendário de competições não permite que se “invente” muita coisa, assim, podemos usar o futevôlei, por exemplo, como recurso recreativo e regenerativo quando necessário.

Não dá para usar é como método de desenvolvimento, de ganho da forma física, pois não há especificidade, nem intensidade total adequadas nessas práticas para o auge da performance no futebol profissional de alto rendimento.

Universidade do Futebol – Em se considerando a integração dos trabalhos físicos e táticos aplicados, nessa perspectiva, como você vê a inserção do preparador físico na comissão técnica daqui a alguns anos? Você acredita que existe chance de essa função perder sua aplicação?

Francisco Ferreira – Como disse, eu gostaria muito de assistir aos treinos do Mourinho para ver o que ele faz de tão revolucionário a ponto de dizer que não se treina mais a parte física isoladamente.

Eu acredito que a função do preparador físico que trabalhe (também) de forma isolada as valências físicas em vários momentos do calendário seja imprescindível. Ainda não creio que se possa atingir níveis ótimos de performance sem treinar na sala de musculação, sem treinar agilidade, resistência de força, etc. Assim, sinceramente, ainda não sei se a função preparador físico será realmente abolida no futuro.

Universidade do Futebol – Qual é a relevância da área acadêmica para o diálogo e para a melhoria da atuação do profissional de preparação física?

Francisco Ferreira – Relevância total! Penso que deve haver um casamento entre a teoria, a pesquisa e a prática. De nada adianta pegar um acadêmico daqueles “ratos de laboratório” e entregar-lhe o comando de uma sessão treinamento, da mesma maneira, em relação ao sujeito apenas prático e que não pega um livro, não procura se informar, ou, no mínimo, se cercar de profissionais competentes nas áreas de fisiologia, fisioterapia, nutrição, etc.

Na verdade, ninguém é uma “ilha”, ninguém sabe tudo. O envolvimento com a comunidade acadêmica é, portanto, imprescindível.

Fernando Catanho, especialista em Bioquímica e Fisiologia

Doutor em Biologia funcional e molecular apresenta marcadores sanguíneos e suas aplicações
Bruno Camarão
Ciência experimental que permite a quantificação das alterações celulares induzidas por estresse, a bioquímica estabelece que diferentes níveis de estresse e alterações musculares podem ser mensurados por intermédio de análises específicas, possíveis de serem feitas em diferentes tecidos ou no sangue e suas frações.

No Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex), fundado oficialmente em 1997 pela Dra. Denise Vaz de Macedo, com o apoio da Fapesp e do Departamento de Bioquímica da Unicamp, por exemplo, a linha de pesquisa central que norteia os é a aplicação de uma nova tecnologia de avaliação física, denominada de Limiar de Estresse.

O parâmetro é determinado a partir da avaliação de diferentes análises bioquímicas no sangue de jogadores de futebol tanto durante a pré-temporada quanto em meio às competições. Na equipe de treinadores e pesquisadores de Campinas está Fernando Oliveira Catanho da Silva.

Licenciado e Bacharel em Educação Física pela própria Faculdade de Educação Física da Unicamp, é especialista em Bioquímica e Fisiologia aplicadas ao condicionamento físico. Além disso, Catanho é Doutor em Biologia Funcional e Molecular com ênfase em Bioquímica e Fisiologia do Exercício e professor do curso de Especialização (modalidade Extensão) em Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Desportiva, oferecido pelo Labex.

A intenção desse espaço acadêmico é poder monitorar a intensidade empregada no treino, de forma a estabelecer o limiar individual de estresse e separar do esquema de treino planejado apenas aqueles atletas detectados no limiar, ajustando momentaneamente suas cargas de treino. A todo o grupo de jogadores será propiciado o máximo de condicionamento físico com o mínimo de lesão muscular de origem metabólica, contribuindo com o trabalho inter e multidisciplinar.

“Os marcadores sanguíneos devem ser vistos e compreendidos como uma forma de refinar a qualidade da avaliação que o fisiologista pretende mediante seus atletas. Essa avaliação permite identificar fenômenos de extremo interesse para o fisiologista, permitindo que o mesmo discuta e sugira ajustes na distribuição das cargas de treinamento e jogos e ainda na qualidade e quantidade da recuperação proposta”, explicou Catanho, nesta entrevista concedida por e-mail à Universidade do Futebol.

Colaborador do portal há anos, com uma série de artigos publicados, ele sempre buscou despertar na comunidade o estímulo à discussão dessa temática. Desafios metabólicos, a importância da potência anaeróbia e da força muscular na modalidade, e a bioquímica do exercício no exercício compuseram o conteúdo dos textos. Um viés laboratorial, mas com clara referência prática dentro das quatro linhas.

“Particularmente, não enxergo a ação do fisiologista destituída de um embasamento bioquímico-metabólico consistente. Logo, o fisiologista é aquele profissional que mescla o conhecimento e a prática de duas áreas correlatas e de fundamental importância: a fisiologia e bioquímica do futebol – e, principalmente, no futebol”, apontou Catanho, que, também abordou o aspecto neural da expressão da força muscular, métodos de recuperação e o modelo de treino integrado de José Mourinho.
Universidade do Futebol – Qual a real importância dos marcadores sanguíneos na indicação de nível de lesão, estado de hidratação, condição de fadiga e desgaste muscular de um atleta de futebol?

Fernando Catanho – Os marcadores sanguíneos devem ser vistos e compreendidos como uma forma de refinar a qualidade da avaliação que o fisiologista pretende mediante seus atletas.

Essa avaliação permite identificar fenômenos de extremo interesse para o fisiologista, permitindo que o mesmo discuta e sugira ajustes na distribuição das cargas de treinamento e jogos e ainda na qualidade e quantidade da recuperação proposta.

Um dos marcadores que mais ganha destaque neste sentido é a enzima Creatina Quinase (CK), marcador de lesão muscular bastante aplicado no futebol. Vale destacar, por fim, que a aplicabilidade destes marcadores sanguíneos se dá quando contextualizada ao ambiente de trabalho, ou seja, feita em conjunto com demais marcadores indiretos, como por exemplo, volume e carga de treinamento.

Além de contar com a participação de demais departamentos, como a nutrição e a fisioterapia para a interpretação dos resultados.

Universidade do Futebol – Há condições reais no futebol brasileiro de se investir nesse tipo de estratégia? Tais análises de sangue fazem parte mesmo da realidade futebolística em sua total amplitude?

Fernando Catanho – Há condições, sim. Basta haver planejamento e segurança daquilo que se quer investigar. Esse planejamento e essa segurança são extremamente necessários para que se convençam os dirigentes, geralmente reticentes a essas metodologias de trabalho.

Muitas vezes não há condições da utilização de 10 marcadores, mas três são possíveis. Ótimo: trabalhemos com esses três e batalhemos para chegar aos 10.

Mesmo assim, considero que ainda estamos em processo de evolução no entendimento e aplicação de tais marcadores na realidade futebolística. Há ainda um hiato que separa a bioquímica e a fisiologia do futebol (aquela que a ciência relata no papel), daquela bioquímica e fisiologia no futebol (aquilo que, do papel, tem serventia na prática).

Aí aparece mais uma função do próprio fisiologista: transformar os conhecimentos metabólicos “do” futebol “no” futebol.

Universidade do Futebol – Que parâmetros podem ser estabelecidos para se diferenciar a bioquímica do exercício, da fisiologia do exercício?

Fernando Catanho – Não estabeleceria parâmetros que diferenciam essas áreas de conhecimento. Considero que, dentro do papel desempenhado pelo fisiologista do exercício, há uma grande participação do entendimento da bioquímica do exercício.

São áreas bastante interdependentes e interrelacionadas, comungando e dependendo dos mesmos parâmetros.

Universidade do Futebol – Em se considerando que o futebol é uma modalidade acíclica, além de intermitente, como se deve realizar o desenvolvimento da capacidade e da resistência anaeróbias?

Fernando Catanho – Parte desta resposta está na própria pergunta. Os estímulos devem considerar a aciclicidade e a intermitência da própria modalidade. Aciclicidade denota saídas rápidas, paradas bruscas e mudanças de direção. Intermitência denota repetição de diversos tipos de estímulos entremeados por diferentes tipos de pausa.

Aliás, aqui reside uma das grandes importâncias do fisiologista: auxiliar no controle das variáveis de treinamento e quantificar os resultados das propostas de treino. Nesse caso, se o objetivo está voltado para a resistência anaeróbia, valência determinante no futebol, sugerem-se diversos estímulos intensos (máximos), de duração curta-moderada (via fosfagênica e glicolítica bem estimuladas) e pausas incompletas (desenvolve os mecanismos de ajuste de pH e de remoção de lactato, além do desenvolvimento metabolismo aeróbio).

Esse trabalho pode ser feito na caixa de areia, na sala de musculação, na pista de atletismo, na quadra coberta (em dia de chuva) e, principalmente, no campo de futebol. Sempre com a preocupação de trabalhar com estímulos mais próximos possíveis à condição de jogo – número de estímulos, pausas entre eles, distância percorrida e posição do atleta em campo.
Universidade do Futebol – Em alguns de seus artigos, você pontua que os jogadores não precisam necessariamente se hipertrofiar em demasia, levando-se em consideração o aspecto neural da expressão da força muscular. Poderia explicar um pouco sobre o que você se refere?

Fernando Catanho – Quando estamos pensando em adaptações ao treinamento de força, potência e velocidade muscular, podemos pensar na facção neural e na facção morfológico-metabólica. Quando isolamos o componente neural, buscamos aumentar força, potência e velocidade motoras com o maquinário contrátil já existente no atleta. Isso é possível graças ao poder adaptativo de algumas estruturas neurais como o órgão tendinoso de Golgi e o fuso neuromuscular.

Além desses, o aumento da coordenação intra e intermusculares, o recrutamento de um maior número de unidades motoras e uma maior frequência de disparos de potenciais de ação nas unidades motoras fazem com que o atleta consiga ser mais forte, potente, veloz, sem necessariamente incrementar sua massa muscular.

Universidade do Futebol – A potência aeróbia reflete a qualidade de funcionamento dos sistemas respiratório, cardíaco e muscular esquelético – pré-requisito para uma boa performance esportiva. A construção de uma base aeróbia boa se inicia no departamento de formação de atletas? Se um atleta se apresenta com déficit na categoria principal, que tipo de trabalho deve ser realizado com ele?

Fernando Catanho – No departamento de formação não se deve iniciar somente uma boa preparação da valência aeróbia como de todas as demais (força, potência, velocidade, agilidade, flexibilidade).

Obviamente que se formos seguir uma corrente da literatura que considera que, nos estágios mais precoces de maturação, há uma maior “sensibilidade” para o desenvolvimento do metabolismo aeróbio, o “garoto-jogador” deveria, na idade adulta, não apresentar defasagens de ordem aeróbia – variável esta de suma importância para o bom desempenho em uma modalidade na qual se repetem inúmeras vezes os estímulos curtos e intensos.

Para que eventuais defasagens da valência aeróbia na idade adulta sejam diagnosticadas, pressupõe-se outro papel fundamental do fisiologista: avaliação planejada e periódica das capacidades físicas.

Uma vez detectada a defasagem, diversos trabalhos podem ser aplicados, com ênfase àqueles que se aproximam mais da realidade do jogo, como os trabalhos intermitentes acíclicos intensivos, podendo utilizar como referência as distâncias percorridas em jogo, a posição e a idade do jogador, além do seu histórico e período de treinamento considerado.




Potência anaeróbica no futebol: fundamental?




Universidade do Futebol – Durante algumas décadas, o trote após uma partida era realizado sob a justificativa de que aceleraria a remoção de "ácido lático" do músculo e do sangue. Tal prática ainda é efetuada por preparadores físicos? Qual a sua opinião sobre isso?

Fernando Catanho – Acredito que tem sido pouco utilizada essa prática do trote, mesmo porque outros métodos de recuperação têm tido mais espaço na prática, como as imersões em banheira de gelo, massagens, eletroterapia e alongamento-relaxamento. Além disso, a discussão acerca do ácido lático e sua relação com fadiga, dor, cansaço também tem sido bastante investigada e esclarecida. A ponto de não concebermos mais esta molécula como um ácido, e sim como lactato. E este lactato, além de auxiliar no controle do pH intramuscular e garantir o funcionamento da via glicolítica, pode ainda ser utilizado pelo próprio músculo como fonte de energia ou ser transformado em glicose no fígado.

Dessa forma, a estratégia do trote pós-jogo pode até ser feita ainda hoje, com outros objetivos, que não a remoção do famoso e intrigante ácido lático.
Universidade do Futebol – O treinador português Jose Mourinho defende um modelo de treino integrado, em que não há separação entre o que é físico, técnico, tático e psicológico. O que você pensa a respeito disso e como vê a aplicação de ideias como essa no futebol brasileiro?

Fernando Catanho – Eu já tive oportunidade de ler uma obra do professor Mourinho. Considero-a bastante audaciosa e, de certa forma, eficiente. Acredito inclusive que a preparação física deve tender cada vez mais para algo específico, baseado nas situações e condições de jogo.

De certa forma, vejo a aplicabilidade de parte das ideias em qualquer agremiação ou clube brasileiro, desde que as pessoas responsáveis consigam adaptar sua realidade ao discurso teórico.

Ao mesmo tempo, julgo que devemos ter cautela no quanto esta proposta pode e deve ser aproveitada em nossa realidade. Não consigo ainda enxergar o futebol sem o aparato da sala de musculação e dos exercícios resistidos “inespecíficos”, sem os tiros intensivos e extensivos sem bola, sem os trabalhos de flexibilidade e coordenação descontextualizados da situação de jogo, para não citar muitos outros.

Logo, como tudo na vida, deve haver bom senso, equilíbrio quanto à utilização dos treinos integrados. Creio que o pensamento do professor Mourinho soma àquelas ideias de preparação física, técnica, tática e psicológica pré-existentes, mas não “toma o lugar” das mesmas.




O que é velocidade no futebol?




Universidade do Futebol – Atualmente, pode-se dizer que a fisiologia do esporte aplicada ao futebol ultrapassou as ações laboratoriais e tem atuação direta no cotidiano das agremiações? Qual é o novo papel do fisiologista?

Fernando Catanho – Essa pergunta abre precedente para esclarecimentos importantes. O fisiologista não é nem aquele sujeito com semblante de pesquisador, de jaleco, óculos, descabelado, dentro de um laboratório, envolto por aparelhos, nem aquele que se limita às ações dentro do campo de futebol.

O fisiologista deve, sim, se valer do nobre conhecimento que nasce no estabelecimento laboratorial, mas que tem a atitude, a audácia de testar tais conhecimentos na prática, sob chuva ou sol, calor ou frio, vitória ou derrota, com ou sem as melhores ferramentas, apoiado sempre pela instituição.

Confesso, com o perdão da palavra, que o maior “tesão” em termos da prática fisiológica é tentar encontrar alternativas que façam com que sua equipe evolua, buscando controlar e considerar o maior número de variáveis nos atletas, desde o estado de hidratação até o limiar anaeróbio, passando pela avaliação da qualidade do sono, do poder competitivo, do nível de ansiedade e da sensação de dor do atleta.

Fisiologista deve ser um sujeito desconfiado, irrequieto, atento, questionador, versátil, audaz, maleável e estudioso. Em suma, o papel desse profissional não termina quando o mesmo envia os dados das avaliações físicas para o preparador físico e comissão técnica. Ele começa neste momento.

Resumo a função do fisiologista, atualmente, da seguinte forma:

- é um avaliador (levantamento de dados e informações para poder propor atitudes práticas);

- é um tutor (discute o planejamento e a periodização, estimulando os preparadores físicos a justificarem suas escolhas e atitudes);

- é um educador (deve fomentar a criação de grupos de estudo no ambiente de trabalho).

Universidade do Futebol – Na mesma linha, essa realidade se aplicará para a bioquímica em um futuro próximo também? Qual a sua opinião?

Fernando Catanho – Acredito que já deve estar sendo aplicada, uma vez que parto do pressuposto de que todo fisiologista deve carregar consigo os conhecimentos bioquímicos.

Particularmente, não enxergo a ação do fisiologista destituída de um embasamento bioquímico-metabólico consistente. Logo, o fisiologista é aquele profissional que mescla o conhecimento e a prática de duas áreas correlatas e de fundamental importância: a fisiologia e bioquímica do futebol – e, principalmente, no futebol.

sábado, 22 de maio de 2010

POSSE DE TRABALHO vs.2 5 mais 3.


OBJETIVOS:
FÍSICO: potência aeróbia e endurance.

Os controles técnicos: passes curtos e médios, e as paredes projetadas.

Táticas: desmarque, suporte, mudança de endereço, mobilidade e coordenação dos dois jogadores de defesa.

PSICOLÓGICOS: concentração e atenção.

MATERIAIS: elásticos, bolas e coletes.

Playground: dois quadrados de 15 por 15 metros.

DURAÇÃO: 5-8 minutos, dependendo da execução do exercício.

DESENVOLVIMENTO: jogar um ou dois toques, tentando manter a bola a 5 jogadores.
Quando um dos dois de defesa recupera a bola e consegue passá-lo para seus colegas em outra praça, segue agora dois anos defendendo os jogadores azul (que na época estão mais perto de imprensa imediatamente.)
Acrescentamos a este exercício a possibilidade de que os jogadores defendendo pode ser mudado para manter uma pressão constante para tentar recuperar a bola e também evitar a exaustão física.

COMENTÁRIOS: as mencionadas acima, tais como um ou dois toques e troca de jogadores defensivos. Você também pode adicionar um toque de bola e defensores recuperá-la, não é o treinador passa a bola para outra casa.

4 VS. 4 com 2 VS. 2 dentro.


OBJETIVOS.
FÍSICO: potência aeróbia, velocidade, velocidade de reação e agilidade.

Técnica: Pass.

TACTICAL desmarque:, suportes, as marcações, paredes e utilização de espaços abertos.

Materiais: elástico, jaquetas, bolas de futebol.

Playground: 12 e 15 metros quadrados.

Duração: 2 a 4 minutos.

DESENVOLVIMENTO: Posse de bola do jogo dois contra dois toques. Dois no interior com dois suportes de cada par do lado de fora.

Comentário: livre jogo de dois toques dentro e por fora, ou vice-versa.
Nós colocamos dois quadrados de modo que a passagem tem mais precisão.

Paixão total: “Eu quero sempre mais”


EXCLUSIVO - Coordenador da preparação física do Grêmio, Paulo Paixão não esconde seu apetite por taças. Mira a Copa do Brasil e se fixa na Copa do Mundo. Sua motivação dobra a cada competição. Confira a entrevista:

Paulo Paixão chega ao Olímpico às 8h30min da sexta-feira engolida pela neblina. Seu carro preto importado, de luz acesa, desliza pelo pátio gingando no samba de Arlindo Cruz. Antes de se acomodar no estacionamento, pisa no freio e troca um amistoso minuto de conversa com um funcionário do Grêmio que limpa o pátio. Sai, tranca a porta, entra no vestiário, vê se as velas estão acesas, se as imagens dos santos estão limpas, muda de roupa e me recebe, com o fotógrafo Fernando Gomes, na sala de imprensa.

O preparador físico mais vencedor da história do futebol brasileiro está elétrico numa das primeiras horas da amena manhã de maio, 30 dias antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo, contra a Coreia do Norte.

– Você nunca vai me encontrar desanimado. Sem chance.

Paixão é uma pessoa educada e humilde (os mais chegados o chamam de Paulinho Gentileza). Oferece café. Peço sem açúcar, como o dele.

Do fundo do vestiário, sai o meloso dueto sertanejo-universitário da dupla Victor e Léo, onde os jogadores se arrumam cheios de energia para o puxado trabalho matutino. Paixão não se importa com o som alienígena, mesmo que seu habitat natural seja o planeta do pagode, onde Zeca Pagodinho é grã-vizir.

A música move Paixão, anima, dá força, é companheira de trabalho e de viagem. Quando trabalhou no Jubilo Iwata, na segunda metade dos anos 1990, ele carregava um pandeiro no banco do carona. Ao ser engolido pelos gigantescos engarrafamentos à caminho do treino, Fundo de Quintal sacudindo o CD Player, ele pegava o instrumento e fazia seu próprio som. O tempo trucando no meio do trânsito passava voando.

– Olha, a vida reúne tantas tristezas, porque não deixar a música se encarregar de um pedaço do lado bom da vida?

vida profissional tem sido pródiga com o carioca Paulo Paixão. Ele ajudou a erguer taças de todos os brilhos e tons em distintos clubes e na Seleção – da gaúcha (”o cafezinho”, ele ri), à mundial, da brasileira à continental. Seu armário está lotado, mas onde ele cavouca motivação depois de mais de duas décadas de faixas?

– A próxima tarefa é sempre a mais importante. Eu quero mais, sempre mais. Estava atento no Gauchão, veio a Copa do Brasil e eu a desejo muito. Depois vou estar ligado na Copa do Mundo com a mesma dedicação. Eu me cobro muito. Vivo intensamente cada competição. Eu quero o Brasileirão – ele diz, acomodado numa das cadeiras estofadas da sala.

Mais do que um preparador físico e um supermotivador, Paixão é referência mundial na sua profissão. Na Rússia, logo depois de deixar o uniforme de campeão do mundo colorado e durante três longos anos, ele foi oferecer o “bê a bá” da sua preparação física vencedora ao CSKA Moscou (quatro títulos em três anos). Os locais não entendiam a contratação do fisicultor brasileiro, esperavam jogadores, os atletas russos se espantaram:

– Quando os jogadores russos começaram a ver filmes com os treinos físicos da Seleção, despertaram – conta Paixão cheio de entusiasmo.

– O que disseram?

– Diziam ‘Ahh Paixão…’. Ficavam espantados quando viam Kaká e Ronaldinho se puxando no trabalho físico e se exercitando ‘sem a bendita bola’. ‘Ahh Paixão…’ repetiam. Repetiam e faziam igual. Eles começaram a entender que, antes da técnica, nossos grandes jogadores treinavam pesado.

Paixão tem um poder que é só dele. Paixão consegue convencer os jogadores que é necessário treinar mais, talvez um pouco mais, quem sabe passar mais uns 10 minutos suando.

– Minha concentração é muito alta. Sou exigente, cobro, desafio. A minha próxima competição é sempre a favorita.
Hoje, a Seleção é o seu cartão de visitas. Os jogadores sabem quem os guia. Respeitam e correm aqueles minutos a mais que podem fazer a diferença num jogo entre iguais (ou nem tanto).

– O Brasil é modelo em preparação física, em medicina do esporte. Cito o Kaká. Ele vai ficar um tempo nas nossas mãos. Vamos colocá-lo em forma. O Kaká vai fazer uma boa Copa, não tenho dúvida. A Seleção sabe do que ele precisa.

Paixão, que cuida do Grêmio como coordenador, ao lado do filho Anderson, também preparador físico, sabe que o time está bem, correndo muito. É superconfiante quando o jogo do Santos entra em questão, mas mantém contatos diários por e-mail ou telefone com os 23 de Dunga, a quem trata por “Capitão”.

– O Gomes treina numa academia em Belo Horizonte, o Gilberto Silva faz o mesmo, o Luisão me disse que está trabalhando. Quem ganhou férias na Europa já está ligado e eu mais ainda.

A Copa começou. São duas, a do Brasil vem antes. Paixão está inteiro nas duas, quer a dupla. É insaciável. Ganhou um título em maio. Quer fechar julho com outros dois antes do Brasileirão.

Não duvide.

Nunca duvide de Paulo Paixão.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Treinos: intenso e com qualidade, ou longo e com média intensidade?


A maneira com que se joga é reflexo da maneira como se treina. A maneira como se treina, é reflexo de como aqueles que trabalham com a preparação dos futebolistas enxergam o jogo
Já faz algum tempo que grandes clubes do futebol europeu vêm em seus treinamentos enfatizando atividades de grande intensidade, com pouca duração, distribuídas em períodos únicos diários ao longo da semana de trabalho.

Faz mais tempo ainda que o cientista do desporto Yuri Verkhoshansky, em suas obras traduzidas do russo para o espanhol, português e italiano (e outros tantos idiomas), defendeu e vem defendendo que, no esporte de alto rendimento, o que define o êxito é o “agir em alta velocidade”.

Agir em “alta velocidade” no futebol, diferente do que o tradicional enfoque, do treinamento desportivo e da biologia do esporte propõem, significa construir um jogo em que o ritmo das ações efetivas, dos jogadores e equipe, seja elevado em função do tempo e do espaço, simultaneamente.

Isso quer dizer que, mais do que qualquer movimento realizado com grande velocidade, o que vale para um intenso e aumentado ritmo de jogo é a “alta velocidade” das ações carregadas de significados (técnicos, táticos, físicos e psicológicos).

Como já debatido outrora, a velocidade, como capacidade biomotora pura e simples, manifestada, por exemplo, em corridas cíclicas, não é a velocidade a ser treinada e maximizada no treinamento de futebolistas (e isso não significa deixá-la de lado) – pelos motivos já bem descritos pelas Ciências do Desporto.

O treinamento intenso, respeitando o volume de ações do jogo de futebol, conforme acontece em grandes equipes europeias, prioriza a qualidade das ações treinadas. E a intensidade com qualidade gera respostas adaptativas por parte dos jogadores e equipes, que condicionam um comportamento de alta velocidade de ações – ações efetivas, carregadas de significados.

Claro, qualidade nesse caso significa gerar estímulos que possam desenvolver o jogo que se deseja jogar, respeitando processo e zona de desenvolvimento proximal de jogadores e equipe.

As ideias iniciais de Verkhoshansky, ainda que não tenham sido construídas, partindo do futebol ou do esporte coletivo, como centro, levantaram um interessante debate sobre a questão da intensidade dos treinos no futebol.

Se a velocidade é fator decisivo no êxito esportivo, no caso do futebol, basta não tratá-la como a mesma velocidade do atletismo, natação ou outros esportes individuais. É necessário que se entenda a fundo, na essência, como ela se manifesta no jogo, e especialmente, como pode e deve ser desenvolvida.

No Brasil, é hábito (ou talvez vício, ou quem sabe, tradição) treinar em dois períodos. Isso acontece tanto nas equipes de base (especialmente sub-17 e sub-20), quanto nas equipes profissionais de 1ª ou 2ª divisão.

Treinar pela manhã e no período da tarde (ainda que os jogos sejam à noite!) é a representação máxima do paradigma do “quanto mais, melhor”, e não do “treinar intensamente, com qualidade”.

Mas, o “quanto mais, melhor” não sobrevive impune, pois como conseguir em treinos de dois períodos manter a máxima intensidade nas atividades, se o “quanto mais”, acumulado ao longo de horas, dias e semanas, leva a incompletas recuperações de uma sessão a outra? Como jogadores mal recuperados podem conseguir agir em máxima intensidade por todo o treino?

Talvez isso explique porque o futebol por lá (na Europa) seja mais dinâmico, movimentado, intenso... E não como escutei outro dia, de conceituado homem do futebol, de que a menor velocidade de jogo aqui no Brasil deve ser atribuída, pura e simplesmente, a altas temperaturas e dimensões maiores dos campos de jogo quando comparadas às médias da Europa – sem falar na “malemolência” dos jogadores brasileiros.

Treinar muito e em baixa intensidade condicionará jogadores a jogarem em baixa intensidade (e quem sabe a aguentar dois jogos seguidos!).

A maneira com que se joga é reflexo da maneira como se treina. A maneira como se treina, é reflexo de como aqueles que trabalham com a preparação dos futebolistas enxergam o jogo.

Então, ao invés do “quanto mais, melhor”, o “real, óbvio, adequado (e melhor!)” deveria ser, “quanto melhor, melhor”.

Como correr menos, com um jogador a menos: lições do português


Compacta de modo eficiente, Inter de Milão atuou com um bloco defensivo bem baixo, flutuando de um lado ao outro, exercendo pressão sobre a bola e abrindo mão da posse
A Uefa Champions League 09/10 foi bem diferente das últimas, nas quais as equipes inglesas mostraram suas forças em todas as fases da competição.

Foram muitas novidades ao longo da jornada, com confrontos interessantes de equipes de diferentes países, e especialmente nas semifinais da competição, com times da França (com um treinador francês), Alemanha (com um treinador holandês), Itália (com um treinador português) e da Espanha (com um treinador espanhol).

Um dos jogos mais esperados e interessantes foi o confronto entre Barcelona e Internazionale de Milão, justamente na fase semifinal da competição. As equipes que já haviam se enfrentado na etapa de grupos; voltaram, no momento decisivo, a se encontrar, alimentando o imaginário de torcedores e imprensa, e promovendo mais uma vez o debate sobre como parar equipe espanhola.

Pois bem. No 1º jogo, em Milão, vitória da equipe italiana por 3 a 1. Com pressing alto, ataque a bola com muita intensidade no campo todo, e transições em altíssima velocidade, a Internazionale “amarrou” o Barcelona em uma armadilha bem desenhada.

O resultado, porém, não deixou apreensivo nem mesmo o mais descrente jornalista catalão, pois as duas equipes ainda teriam de jogar a 2ª partida em Barcelona, onde a equipe da Espanha “atropelaria” o time de José Mourinho.

Pois bem.

No 2º confronto, jogo até certo ponto equilibrado até os 28min do 1º tempo, quando Thiago Motta, da equipe italiana, foi expulso.

A partir daí... Bom, a partir daí, a Inter abriu mão totalmente de ficar com a posse da bola, de buscar o campo de ataque e fez o que parecia impossível. Mais uma vez “amarrou” a equipe do Barcelona, que apesar do grande volume de jogo, deu pouquíssimo trabalho ao goleiro Júlio César.

Algumas coisas interessantes podem ser destacadas nesse jogo.

Fazer frente ao Barcelona, em um jogo 11 contra 11, já não é tarefa muito fácil. Com um jogador a menos, alguns problemas habituais podem se tornar grandes problemas. Podemos destacar, por exemplo:

a) A equipe do Barcelona tem como característica predominante a manutenção e valorização da posse da bola, com jogo de ataque apoiado. Com um jogador a menos, como pressionar a bola, e como roubá-la?

b) Com um jogador a menos, maiores as dificuldades para se construir um jogo ofensivo rápido, ocupando espaços adequados para progredir ao campo adversário e terminar a jogada com finalização. Como conseguir atacar, liberando um número menor de jogadores para participar efetivamente da fase ofensiva da equipe?

c) A equipe do Barcelona, em dificuldades, investiria na velocidade das transições ofensivas; fase do jogo em que a equipe italiana teria maior vulnerabilidade e desequilíbrios. Como não correr riscos, com um jogador a menos, nas transições ataque --> defesa?

d) Com um jogador a menos desde os 28min do 1º tempo, como resistir “fisicamente” ao jogo nos mais de 60 minutos próximos?

Pois bem. A equipe italiana conseguiu resolver a maioria dos problemas que poderiam se tornar grandes com a perda de um jogador.

Como tinha conquistado uma vantagem no jogo na Itália, pôde abrir mão de resolver aquele que talvez fosse o maior de seus problemas, e que certamente dificultaria na administração dos outros: não precisava atacar.

Como não precisava atacar, logo, também não precisava se preocupar em ficar com a bola, nem tampouco progredir com ela e com a equipe para o campo de ataque.

O que fez, então, a equipe italiana?

Jogou dando uma aula de compactação, com um bloco defensivo bem baixo (na linha 5), flutuando de um lado ao outro no campo de jogo, exercendo pressão sobre a bola e abrindo mão, totalmente, de ficar com sua posse.

Para se ter uma ideia, a equipe do Barcelona, segundo a Uefa, realizou 627 passes (com 89% de aproveitamento), contra 160 passes (com 42% de aproveitamento) da equipe de Milão.

Abaixo, outros dados do jogo (retirado do site da entidade).

Apesar do grande volume de jogo, quase nenhum ataque espanhol configurou-se como perigo efetivo ao gol da Inter.

Outro fato que merece destaque é que mesmo com um jogador a menos, a equipe de José Mourinho, com sua ocupação zonal do espaço de jogo, conseguiu que seus jogadores percorressem, em média, distância similar a percorrida pelos jogadores do Barcelona. Foram 10,18 km da equipe espanhola contra 10,02 km da equipe italiana.

Ou seja, o problema de resistir por mais de 60 minutos ao jogo foi resolvido também com maestria.

Muitos disseram e continuarão dizendo que o que fez a Inter de Milão foi algo muito diferente de futebol; algo muito feio, lamentável.

O que eu acho?

“Que é por dentro das coisas que as coisas são como são”.

Por hoje é isso...