terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Análise de um programa de treinamento anaeróbio na pré-temporada de um clube profissional de futebol

Em período de 10 dias, deve-se objetivar a resistência aeróbia, pois realizar exercícios de resistência anaeróbia pode minimizar risco de os atletas sofrerem lesões musculares
Matheus Costa
Resumo

O presente estudo tem como objetivo analisar como é feito um treinamento anaeróbio na pré-temporada em um clube profissional de futebol, em um Centro de Treinamento localizado na Av. Marquês de São Vicente, no Bairro da Barra Funda, Zona Oeste da cidade de São Paulo/SP, tendo como população de amostra vinte e oito atletas profissionais de futebol, todos em condições de treinamento, sendo quatro goleiros, cinco zagueiros, cinco laterais, oito meios de campo e seis atacantes com idades variando entre dezoito a trinta e cinco anos. Objetivou-se neste estudo atingir a melhor forma física do atleta, para isto, foi observada toda a pré-temporada do futebol em um período de dez dias. Neste período foram realizadas dezessete sessões de treinamentos onde quatro para a resistência aeróbia, quatro para a resistência anaeróbia e nove para a resistência mista. A predominância no treinamento físico da pré-temporada deve ser a resistência mista, pois é o que mais se assemelha a uma partida de futebol, onde os atletas devem trabalhar durante os noventa minutos fundamentos desta precisão.

O calendário brasileiro não proporciona um tempo ideal de preparação antes dos campeonatos que ocorrerão durante o ano, devido a isso a pré-temporada tem um tempo curto e a conseqüência disso pode resultar em graves lesões aos atletas pela falta adequada de preparação no período pré-competitivo.

Devido à importância que se tem notado ultimamente na preparação física do futebol, este estudo pretende ainda analisar como é efetuado o treinamento físico em uma pré-temporada, levando-se em consideração o curto espaço de tempo da reapresentação da equipe até a primeira partida na competição da temporada, verificando-se a porcentagem de treinamento aeróbio, anaeróbio e mista; determinando em que momento treina-se o sistema anaeróbio; Analisando se o período preparatório foi considerado ideal para o início de uma temporada.

Introdução

Como modalidade esportiva o futebol é considerado extremamente complexo, pois existe na sua prática a interferência de várias capacidades motoras atuando conjuntamente: velocidade e coordenação; resistência e agilidade e capacidade de consumo de oxigênio (SOUSA, 2006 apud PELLEGRINOTTI et al, 2008). É um esporte de natureza essencialmente intervalada, intercalando períodos de baixa, média e alta intensidade, de modo que o jogo é indutor de diferentes impactos fisiológicos, que devem ser respeitados na prescrição do treinamento (FERNANDES, 2002 apud PELLEGRINOTTI et al, 2008). Essa modalidade exige ainda que os praticantes tenham grandes alternâncias de movimentação, ou seja, corridas com altas velocidades, movimentação moderada de média duração, saltos, contato corporal, chutes com máxima potência e moderados, mudanças de direção e habilidades para controle da bola. Todas essas ações podem ser avaliadas por meio de testes específicos, testes estes que envolvem deslocamento para o futebolista, tornando-se indicado para observação do desempenho de capacidades exigidas na prática.

O futebol é um esporte que implica a prática de exercícios intermitentes (intervalados), de intensidade variável sendo aproximadamente, 88% (oitenta e oito por cento) envolvendo atividade aeróbia e 12% (doze por cento) envolvendo atividade anaeróbia de alta intensidade A preparação física do futebol deve ser aplicada de acordo com as exigências que os jogadores sofrem durante uma partida que é caracterizada pela realização de esforço anaeróbio interposto por períodos de menor intensidade e duração variada (BARROS; GUERRA, 2004). Com isso, o preparador físico tem o propósito de aplicar um treinamento para que os jogadores tenham condições de atuar durante toda a temporada.


Objetivo

Analisar como é feito um treinamento anaeróbio na pré-temporada em um clube profissional de futebol procurando atingir a melhor forma do atleta.


A preparação física do futebol no Brasil

A trajetória do futebol brasileiro inicia-se a partir de 1894 com a chegada de Charles Miller para o Brasil. Caldas (1990, p. 37) entende que ocorreram duas fases que modificaram o nosso futebol: o amadorismo até 1933 e o profissionalismo até os dias de hoje. A partir de 1933 houve a implantação do futebol profissional brasileiro, talvez o marco mais importante na história deste esporte no Brasil. Com isso, cresceu a valorização desta modalidade e os jogadores passaram a ser cobrados, ainda que de forma precária, e os investimentos começaram a surgir.

Atualmente o aspecto científico do treinamento está desenvolvido, os profissionais se especializam utilizando aparelhos eletrônicos para determinar o nível de condicionamento e a evolução dos atletas, portanto seria impossível não pensar em um preparador físico integrando a comissão técnica de uma equipe.

No futebol, a preparação física não pode ser retratada como um objetivo em si, devendo ser subordinada ao objetivo superior que é a melhoria da capacidade de jogo, tornando ideal a capacidade esportiva (WEINECK, 2000, p. 18) e vem sofrendo transformações por se tratar de um esporte em que iniciou-se brevemente os estudos científicos para a melhora da performance, bem como os aspectos técnicos, táticos e físicos.

Com a finalidade de preparar os futebolistas para a temporada, é importante destacar três etapas de desenvolvimento da capacidade especial de trabalho: trabalho aeróbio, preparação muscular e aumento da capacidade energética do organismo (GOLOMAZOV; SHIRVA, 1997, p. 19). Com isso, a preparação física específica visa conseguir o desenvolvimento ótimo de manifestações das capacidades físicas que correspondem às necessidades específicas de um futebolista, durante o desenrolar de uma partida.

Com a cientificidade envolvendo esse assunto, pode-se destacar a individualização dos atletas nos treinamentos da capacidade física para o desenvolvimento do mesmo de acordo com sua respectiva posição no jogo. Um dos princípios científicos do treinamento físico no futebol, afirma Leal (2000, p. 139), é a individualidade biológica que diz respeito às cargas de treinamento, visando serem distribuídas a cada atleta, de acordo com os resultados dos testes e avaliações, bem como pela sensibilidade do preparador, sabendo da impossibilidade de haver dois indivíduos idênticos.


Treinamento aeróbio no futebol

Resistência aeróbia no futebol é a capacidade de se manter um esforço de longa duração com intensidade fraca, portanto, afirma Fernandes (1994, p. 49), é um esforço realizado sempre na presença de oxigênio, havendo um equilíbrio entre a quantidade consumida e a recebida, sendo fundamental no futebol devido ao tempo de duração de um jogo. A importância do treinamento da capacidade aeróbia do futebolista nota-se através da distância percorrida durante os noventa minutos de jogo, Bangsbo citado em Barros e Guerra (2004, p. 2) que no geral, cada atleta percorre em média dez mil e oitocentos metros.

A resistência aeróbia de um futebolista deve ser treinada através de meios específicos e inespecíficos na qual seu nível continue se elevando a cada temporada, de forma que mesmo os meios gerais cada vez mais tornar-se-ão intensos e mais próximos da realidade de competição. Não se justifica a utilização de meios de corridas sem nenhum objetivo definido para o futebolista, porém também não se justifica o total abandono dos treinamentos para a manifestação aeróbia da resistência (FRISSELLI; MANTOVANI, 1999, p. 212).

Os objetivos do treinamento aeróbio no futebol são de aumentar: a velocidade de recuperação após a atividade de alta intensidade como piques, a capacidade do sistema cardiovascular em transportar oxigênio aos músculos solicitados durante a partida de futebol e a capacidade dos músculos solicitados em utilizar o oxigênio fornecido e oxidar ácidos graxos. Um teste que vem sendo aplicado no futebol para a avaliação da resistência aeróbia é o soccer test que consiste na realização de quatro corridas de quinze metros com intervalo de dez segundos, tendo como objetivo fazer o maior número de repetições possíveis, o teste é encerrado quando o atleta não conseguir acompanhar a velocidade estabelecida, começando com a velocidade de nove quilômetros por hora e podendo chegar a uma velocidade de vinte quilômetros por hora, sendo executado em campo de jogo com os atletas utilizando chuteiras e a cada quinze segundos sendo monitorado sua freqüência cardíaca (BARROS; GUERRA, 2004).

Analisando este teste específico, Frisselli e Mantovani (1999, p. 217) citam que três fatores são fundamentais para determinar a condição física de cada futebolista, sendo eles: os testes selecionados têm que refletir a característica física do esporte praticado e mais especificamente da posição em que joga, deve-se periodizar a aplicação dos testes para haver uma comparação no decorrer da temporada e de que seria interessante padronizar os testes para todas as categorias a fim de verificar a evolução no decorrer dos anos.

Este teste, apesar de apresentar o VO2 máximo do atleta, cita Barros e Guerra (2004, p. 73), é considerado um teste indireto para avaliar a capacidade aeróbia dos jogadores sendo aceito como a melhor forma de quantificar a capacidade para exercícios prolongados. Fernandes (1994, p. 108) afirma ainda que os resultados obtidos com este teste servem para medir a resistência aeróbia possuindo uma correlação com o VO2 máximo conseguido na esteira rolante, portanto apresenta critérios científicos com qualidade comprovada.

Os estudos da ciência no futebol precisam aprimorar testes específicos para que haja somente a participação de uma resistência, procurando ter uma maior exatidão, neste caso, nos resultados da capacidade aeróbia. Nota-se, por se tratar de um esporte em que a capacidade física do atleta é ampla por trabalhar em uma partida cargas como potência máxima até caminhadas, a diversidade dos testes aplicados aos atletas conforme as estruturas que os clubes profissionais tem em seu departamento.

Embora o futebol seja um desporto não-contínuo e de alta intensidade, sua complexidade determina elevada demanda de todos os jogadores, uma boa base de resistência aeróbia deve ser estabelecida para prevenir o efeito negativo da fadiga (baixos níveis de resistência diminuem a capacidade de realizar trabalho de alto padrão), reduzindo o nível de contração, julgamento tático e a capacidade de realizar habilidades técnicas, aumentando ainda a probabilidade de lesões (BOMPA, 2002, p. 85). Por se tratar de um desporto em que envolve diversas capacidades físicas, percebe-se uma atenção primordial ao treinamento aeróbio por ser predominante em uma partida de futebol, mesmo não sendo um fator que influencie diretamente no resultado de uma partida, mas que crie base para a mesma.


Treinamento anaeróbio no futebol

Apesar do futebol ser um esporte predominado por exercícios aeróbios o que altera os resultados em uma partida, são os exercícios anaeróbios, ou seja, de alta intensidade e curta duração, como um chute, cabeceio ou contra-ataque, que ressaltam a importância de se trabalhar a preparação física para a melhora da capacidade anaeróbia do jogador.

Treinamento anaeróbio é definido como sendo a capacidade do músculo em realizar atividades de alta intensidade sem a presença suficiente de oxigênio no organismo do atleta, isto ocorre normalmente nas partidas de futebol e deve-se trabalhar com os jogadores da maneira mais real possível de um jogo (BARROS; GUERRA, 2004, p. 29).

Bompa (2002, p. 261), afirma que a capacidade anaeróbica é a energia produzida em decorrência do exercício na ausência do oxigênio, sendo que esta energia está diretamente ligada à intensidade do rendimento de uma rotina tática e o melhor método para melhorar esta capacidade é o trabalho específico, entretanto, o anaeróbio é mais efetivo, com um tempo mais longo de restabelecimento da reserva de energia, se alterná-lo com o treinamento aeróbio.

A necessidade da resistência anaeróbia para o jogador de futebol proporciona para Weineck (2000, p. 30): o condicionamento físico das características de desempenho muscular do jogo em si (mudanças de direção, aceleração chutes e dribles); boa assimilação das cargas intermitentes e repetitivas de corrida, acelerações e saltos, dribles em velocidade, chutes e cabeçadas rápidas; melhor capacidade de resistir às mudanças de velocidade e poder acompanhar o alto ritmo de jogo e capacidade de realizar acelerações, saltos, dribles e chutes com ritmo máximo de forma dinâmica no jogo todo.

Brunoro; Afif (1997, p. 100) consideram o treinamento anaeróbio no futebol como sendo a fase mais longa e importante que, obedecendo a intervalos, consiste em treinamentos com resistência de velocidade, resistência em distâncias não muito longas de duzentos a trezentos metros e resistência de velocidade em distâncias mais curtas com o objetivo de criar situações que o atleta pode deparar no jogo.

Para o sucesso dos jogadores é necessário que haja grande capacidade de potência anaeróbia, sendo que esta potência pode ser dividida em lática e alática, ambas sendo fundamentais para o desenvolvimento dos futebolistas profissionais.

a) Treinamento anaeróbio lático no futebol

À medida que a duração de um esforço máximo explosivo ultrapassa os dez segundos, a dependência em relação à energia anaeróbia proveniente dos fosfatos intramusculares diminui, com um aumento proporcional na transferência de energia anaeróbia proveniente da glicólise e, para aprimorar a capacidade desta pelo sistema energético em curto prazo do ácido lático, completa McArdle, Katch e Katch (2003, p. 498), o treinamento terá que sobrecarregar esse aspecto do metabolismo energético.

No início do exercício para se chegar à resistência anaeróbia lática a fonte energética é puramente aeróbia. Após esse limite, a produção de lactato vai aumentando progressivamente através do esforço e, se o aumento do esforço for constante, maior será a concentração do ácido lático no sangue, se essa produção for maior que quatro mmol de lactato por litro de sangue, será atingido a resistência anaeróbia, a partir do qual os valores do lactato sofrem um aumento súbito com um esforço maior (FERNANDES, 1994, p. 51).

O objetivo do treinamento anaeróbio lático no futebol para Barros e Guerra (2004, p. 29) é aumentar a capacidade do músculo em realizar atividades de alta intensidade repetidas vezes, visto que durante o jogo o atleta é obrigado a trabalhar em alta intensidade com curtos períodos de recuperação.

O nível elevado de lactato sangüíneo e a diminuição nos estoques de glicogênio muscular geralmente estão ligados a prejuízos no desempenho neuromuscular, diz Wisloff em Barros e Guerra (2004, p. 12) e, durante uma partida, pode haver grandes diferenças na produção de lactato entre os jogadores, já que a quantidade de exercícios de alta intensidade depende de vários fatores como a motivação, o estilo de jogo, as táticas e as estratégias.

Estudos realizados por Reilly, Thomas, Korcek, Palfay Morsov e Lukscinov, afirma Fernandes (1994), para calcular as distâncias percorridas em velocidade máxima verificam que, durante as partidas, ocorriam muitas repetições que variavam de três a trinta metros, sendo mais freqüentes as distâncias de dez a quinze metros, que se repetiam de trinta a sessenta vezes por jogo. Com bases nesses resultados, pode-se definir que a distância total percorrida em velocidade aeróbia lática é de aproximadamente oitocentos metros, o que corresponde a dez por cento do total que se corre em uma partida, equivalente a oito quilômetros, segundos os pesquisadores citados acima.

No futebol, o principal objetivo do sistema anaeróbio lático, entende Gomes e Souza (2008, p. 173) é o de criar adaptações e, conseqüentemente, aumentar o potencial energético atribuindo às influências da carga que visam ao treinamento dessa capacidade.

b) Treinamento anaeróbio alático nofFutebol

O sistema anaeróbio alático, para Fernandes (1994, p. 48) está diretamente relacionada com a força explosiva, que no futebol significa o salto para o cabeceio, passes e chutes, arremessos laterais, lançamentos do goleiro com as mãos e dribles, estes sendo fatores que podem alterar o resultado de uma partida. No mesmo caminho, Zakharov (1992, p. 112) afirma que os mecanismos fisiológicos que estão na base desta resistência são, em grande medida, parecidos com os que determinam o nível das capacidades de velocidade e de força do atleta e o aumento da potência do sistema alático de asseguramento energético atribui uma particularidade metódica única às influências de treino que visam ao treinamento desta resistência.

O futebolista é exigido aproximadamente quinze por cento da duração de uma partida. Nesses curtos períodos ocorrem as ações determinantes para a conclusão de uma jogada, correspondendo entre cento e sete a cento e trinta e nove ações intensas por jogo como todos os deslocamentos de curta duração (dribles, saltos, mudanças de direção, confrontos e disputas com e sem posse de bola). Como estas ações duram cerca de um a cinco segundos, isto representa uma ação intensa a cada quarenta e três segundos, portanto, a recuperação rápida entre duas ou mais ações intensas torna-se uma exigência como conseqüência da evolução do jogo (CARZOLA; FAHRI, 1998, p. 62).

Para o treinamento cardiopulmonar, cita Frisselli e Mantovani (1999, p. 210), a fonte anaeróbia alática é indispensável para o desenvolvimento da resistência do futebolista, pois ela está diretamente relacionada com a utilização dos fosfagênios para a ressíntese do ATP, cabendo a ela a promoção dos chutes, passes, fintas, dribles e saltos.


Metodologia

Casuística

Primeiramente será efetuada a composição do referencial teórico. Com base na literatura voltada ao tema proposto, para com esse embasamento seguir o estudo. A pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso que de acordo com Gil (1991, p. 121), o estudo de caso caracteriza-se pela grande flexibilidade que este possui, não estabelecendo um roteiro rígido que determine como a pesquisa deverá ser desenvolvida. A coleta de dados foi realizada pelo procedimento da observação.

A pesquisa foi realizada em um Centro de Treinamento localizado na Av. Marquês de São Vicente, no Bairro da Barra Funda, zona oeste da capital paulista, onde existe três campos oficiais, um campo reduzido, um campo para treinamento de goleiros, uma sala de musculação e um núcleo de reabilitação esportiva contando com um departamento médico, fisioterápico e fisiológico.

Métodos

O presente estudo foi realizado com a população de vinte e oito atletas profissionais de futebol, sendo que todos encontraram-se em condições de treinamento, na qual quatro deles eram goleiros, cinco zagueiros, cinco laterais, oito meios de campo e seis atacantes com idades variando entre dezoito a trinta e cinco anos. A pré-temporada foi composta por dezessete sessões de treinamento em um período de dez dias sendo que nove treinos foram realizados às nove horas e oito às dezesseis horas com o sétimo e décimo dia sendo realizado somente pela manhã e o oitavo dia somente no período da tarde, durando cada treinamento aproximadamente duas horas de atividades, incluindo nesse período dois jogos-treino, musculação (objetivando a pliometria básica), jogos em campo reduzido, exercícios de coordenação e propriocepção, trabalho de resistência anaeróbia e treinamento técnico e tático, os treinamentos foram executados de acordo com cada proposta do dia, objetivando o aprimoramento físico para a melhora do desempenho.

A observação foi feita através de anotações do que foi realizado nesta época e, no decorrer da pesquisa serão analisados e discutidos todos os dias desta, relatando os exercícios e objetivos de cada proposta realizados nos dez dias de treinamento.

Resultados e discussão

Resistência geral: Pode-se especificar resistência geral o seguinte trabalho executado na pré-temporada: uma corrida com duração de quarenta minutos ao redor do campo de futebol.

Corrida de 40 Minutos: Percebe--se que é um tempo adequado para o primeiro dia de treino após as férias, procurando adequar o atleta a suportar posteriormente o trabalho para a melhora da resistência específica, só que ter o controle de sua frequência cardíaca traria cientificidade na execução do trabalho sendo benéfico para os jogadores, fato que não ocorreu neste treinamento. A frequência cardíaca mostra-se importante devido à intensidade no exercício, pois se os atletas trabalharem com uma carga acima do previsto neste período poderão chegar a um overtrainning, tendo como consequência o baixo rendimento da equipe tanto da parte física, como técnica e tática, já se for trabalhado abaixo do considerado ideal neste período, os exercícios físicos não trarão benefícios nenhum para a prática do desporto específico, sendo necessário trabalhar a resistência aeróbia de acordo com que se executa esta em uma partida de futebol.

Resistência específica: Exercícios de preparação específica constituem o maior volume de exercícios de treinamento dos atletas qualificados. Sua intensidade, estrutura e duração assemelham-se às exigências impostas ao atleta durante a competição (FRISSELLI; MANTOVANI, 1999, p. 51). No caso deste estudo, define-se como resistência específica os seguintes trabalhos executados na pré-temporada: soccer test, jogos em espaço reduzido, tiros de velocidade até cem metros, exercícios de ataque/contra-ataque com dois defensores e quatro atacantes, pliometria básica, oito tiros de mil metros, exercícios de propriocepção, treinamento específico por posição, coordenação e saltos, treinamento técnico envolvendo chutes e cabeceios, treinamento técnico tático, cobranças de falta e amistosos.

a) Soccer Test: é uma forma de controlar as variáveis de aptidão física ao longo da temporada, mostrando as evoluções físicas que ocorrem durante uma periodização bem planejada. A média dos jogadores no teste ficou em quinze quilômetros por hora chegando ao sétimo nível do programa, isso quer dizer que os atletas correram aproximadamente mil seiscentos e oitenta metros, começando os primeiros duzentos e quarenta metros a oito quilômetros por hora e terminando essa mesma distância a velocidade de quinze quilômetros por hora. Barros e Guerra (2004, p. 36) afirmam que o atleta deve trabalhar nos treinamentos uma intensidade superior da velocidade e resistência que são executados nos jogos, para que nas partidas o atleta encontre mais facilidade na execução de sua tarefa.

b) Jogos em espaço reduzido: Este tipo de atividade ocorreu por duas vezes, porém um com dois tempos de trinta minutos e outro com um tempo de quarenta e cinco minutos. Melo (2001, p. 51) afirma que esse treinamento é importante nesse período, pois se usa movimentação constante dos jogadores trabalhando as resistências aeróbias e anaeróbias juntas especificando este trabalho para o desporto praticado. O trabalho em campo reduzido se torna importante para a preparação dos jogadores, pois neste momento os atletas se deslocam constantemente e o tempo necessário deve ser inferior ao de uma partida para que seja um exercício efetivo, devido às constantes movimentações dos jogadores que executam todos os fundamentos que ocorrem durante um jogo, só que por mais vezes por ser em um espaço inferior a este (GOMES; SOUZA, 2008, p. 205).

c) Tiros de velocidade: Em todos os tiros de velocidade o tempo determinado pelo preparador físico foi executado de acordo com o que foi pedido, onde nenhum atleta ultrapassou ou antecedeu o tempo determinado, como veremos a seguir. Inicialmente os atletas realizaram dez tiros de cinco metros sendo determinado um tempo entre quatro a seis segundos. Após foram executados oito tiros de dez metros onde o tempo era de seis a oito segundos. Consecutivamente os seis tiros de vinte metros tinham que estar entre oito a doze segundos. Os quatro tiros de cinqüenta metros entre doze a dezesseis segundos. Finalizando os dois tiros de cem metros tinham que estar de dezesseis a vinte segundos.

Verificando todos os tiros os atletas percorreram seiscentos e cinqüenta metros com um tempo variando entre duzentos e dezesseis a trezentos segundos. Entende-se que mil metros em formas de sprints podem ser executados em noventa minutos de jogo, já este trabalho realizado, faltou aproximadamente trezentos e cinqüenta metros para atingir esta marca, sendo que este foi executado em aproximadamente quarenta minutos de treino, tempo bem inferior ao verificado pela literatura.

Nota-se que este tipo de treinamento é fundamental para o futebol, devido à importância que tem a velocidade para este e por mostrar que esses exercícios irão melhorar a capacidade de velocidade dos atletas, incluindo os tiros de até cem metros, por melhorar a capacidade anaeróbia dos atletas, mesmo sabendo que em uma partida os jogadores não irão executar sprints nessas distâncias, mas encontrando maior facilidade no momento de executar tiros mais curtos.

d) Exercícios de contra-ataque / ataque x defesa: No período preparatório pré-competitivo, quando se aproxima da temporada, deve-se começar o trabalho com treinamentos específicos com bola de ataque contra defesa objetivando movimentação de jogo e finalização com precisão ao gol (MELO, 2001, p. 29). A somatória deste trabalho resulta em especificidade para os jogadores ofensivos que tem que puxar um contra-ataque em velocidade procurando fazer o gol e para os jogadores defensivos que em menor número tem que procurar evitar este gol, exigindo a capacidade anaeróbia por ser um trabalho em alta velocidade, capacidade técnica por ser um trabalho com bola e capacidade tática tentando os jogadores ofensivos superar o bloqueio dos defensores, já os defensores por tentar interceptar a bola destes.

e) Pliometria básica: Para obter sucesso com a pliometria no programa de treinamento é necessário que a escolha dos exercícios deva ser refletida nas demandas específicas da modalidade esportiva e a técnica da execução deve ser de maneira correta do padrão do movimento. Um programa de pliometria deve durar entre oito a dez semanas, com duas sessões semanais de treino, sendo que a integração entre o treino pliométrico e o treino de força é o mais importante, necessitando um nível básico de força antes para que tenha durante o treinamento o efeito desejado (COUTINHO, 2008).

Devido ao tempo de dez dias de pré-temporada torna-se impossível o tempo de trabalho desejado pelos autores citados acima, porém todos os trabalhos realizados de pliometria tiveram antes o auxílio da musculação e no trabalho de saltos houve também as variabilidades laterais, frontais e trás, inicialmente com os dois pés tocando ao mesmo tempo sobre o solo e após alternando as pernas.

f) Oito tiros de mil Metros: Gomes e Souza (2008, p. 30) entendem que o treinamento intervalado com tiros de mil metros tem como objetivo a melhora da resistência anaeróbia lática dos atletas, fundamental para se trabalhar no período preparatório. No mesmo caminho Frisselli e Mantovani (1999, p. 194) afirmam que para que isso ocorra, todos os tiros realizados não devem ultrapassar cinco minutos, sendo que o intervalo de recuperação não devendo passar do mesmo tempo. Todos os atletas executaram os oito tiros com o tempo ficando entre três minutos e vinte segundos a quatro minutos, com um intervalo de cinco minutos entre um tiro e outro, observou-se que o tempo foi suficiente para a sua recuperação de alcançar os tiros seguintes entre esses volumes. Com um período curto de pré-temporada, nota-se que o treinamento intervalado é de fundamental importância e, para o aperfeiçoamento da resistência anaeróbia lática, o trabalho de tiros de oitocentos metros com um intervalo de recuperação de três a quatro minutos seria necessário para o desenvolvimento desta.

f) Exercícios de propriocepção: Na pré-temporada, exercício de propriocepções tem como objetivo inventar o máximo de situações diferentes de desequilíbrio do atleta para que haja posteriormente o equilíbrio. Este treinamento serve como uma fase de proteção específica, contando que o modo ideal do exercício deve ser de ritmo alternado, com as superfícies de execução e as posições de simulações dos gestos do jogo, tendo como principal objetivo à integralização dos movimentos globais e específicos dos gestos do futebol (FILHO, 2008). Exercícios proprioceptivos devem ser executados duas vezes por semana com uma duração de quarenta minutos aproximadamente em um período de três semanas antes do período de competições, isso trará benefícios de fortalecimento muscular e equilíbrio corporal (WEINECK, 2000, p. 112).

Nota-se que apesar do futebol ser praticado na grama, muitos trabalhos podem ser feitos em outros ambientes, um deles podendo ser feito na areia. Gomes e Souza (2008, p. 190) explicam que este melhora a estabilidade, ganho de força e resulta em plena conscientização do corpo.Isto relata a importância da junção do trabalho de propriocepção na areia com bola, trazendo benefícios na parte física e técnica, formando fundamentos para o início da preparação tática.

g) Treinamento específico por posição: Leal (2000, p. 34) entende que o treinamento específico para os zagueiros deve-se exigir exercícios físicos e técnicos que trabalhem com impulsão, velocidade explosiva e continuada, capacidade de recuperação e força, já para os armadores, exercer fundamentos com grande capacidade orgânica, resistência, coordenação e agilidade e, os atacantes com força explosiva e cabeceio devendo possuir um bom poder de finalização.Os treinos específicos por posição devem ser: para os laterais de marcação, condução de bola em velocidade e cruzamentos; para os zagueiros de marcação, antecipação, cabeçada e rebatidas; meio de campo passe, drible, marcação e finalização e atacantes chute, cabeçada, domínio e drible (MELO, 1997, p. 114). Isto mostra que, a especificidade do atleta, trabalhada de acordo com a posição, poderá trazer bons resultados devido ao futebolista já estar preparado para o possível estresse que sofrerá no decorrer da partida, porém se no momento do jogo ele sofrer algum improviso em outra posição e ele não estiver preparado para o momento, toda uma equipe poderá sofrer a conseqüência podendo ser um dos motivos a falta do controle específico daquela posição.

h) Coordenação e saltos: A coordenação e saltos para os futebolistas devem ser incrementados nos treinamentos devido à conseqüência disso que será o aperfeiçoamento da execução dos fundamentos técnicos e das explosões de força. Para jogadores de alto nível o número de saltos em uma pré-temporada, calculando aproximadamente um mês, deve variar entre quatrocentos a quatrocentos e cinqüenta saltos podendo variar em saltos no lugar, em altura, sobre barreira e em profundidade (COUTINHO, 2008). Melo (2001, p. 42) enfatiza que a coordenação no futebol só trará efeito ao atletas se eles estiverem motivados para aprender, que sejam intransingentes no cumprimento dos aspectos de execução e que atendam aos feedbacks dados pelo treinador com o objetivo de corrigir as suas execuções.

i) Treinamento tático: A preparação tática foi desenvolvida no sexto e décimo dia de pré-temporada, tendo como objetivo o treinamento específico de todos os jogadores em suas posições específicas com e sem a posse da bola, servindo como um treinamento para ser aplicado durante as partidas de toda uma temporada.

Brunoro e Afif (1997, p. 180) afirmam que o sucesso da tática em um jogo seria a repetição desta nos treinamentos, mas para que isto não se torne desgastante as repetições devem ser trabalhadas com exercícios diferentes para que assim não se torne um treino cansativo e desmotivante para os atletas.

Verificou-se, nesta pré-temporada, que o treinador utilizou nas duas vezes em que deu este tipo de treinamento, uma análise da tática que seria aplicada em uma planilha para que, posteriormente, após todos compreenderem o porquê e o objetivo deste trabalho, praticar isto no campo. Para isso, Gomes e Souza (2008, p. 38) relatam que a preparação tática está longe da desejada pelo treinador nos primeiros meses de temporada, que durante as competições deve ser trabalhada isto servindo como uma lapidação para a mesma. Devido à falta de tempo, torna-se impossível o trabalho tático com os jogadores partindo do seu ponto físico e tático ideal, devido a limitação do calendário brasileiro e do pouco tempo de preparação conseqüentemente.

j) Amistosos: Neste período os amistosos são fundamentais para o processo de treinamento e Barros e Guerra (2004, p. 244) afirmam que isso traz menos ansiedade para os jogadores para que comece o campeonato, conhecimento do treinador com os atletas e conhecimento de todo um resultado trabalhado anteriormente para a temporada.Amistosos devem ser realizados pelo menos uma semana faltando para o início das competições tendo um descanso de no mínimo três dias e é importante que o treinador utilize todos os jogadores que ele tem disponível para a primeira partida (GOMES; SOUZA, 2008, p. 176). Melo (2001, p. 46) considera importante que os amistosos marcados na pré-temporada sejam com equipes inferiores à sua para que sua equipe comece o campeonato motivado vindo de vitórias em amistosos, fato que pode influenciar no psicológico do atleta.

Neste caso os amistosos ocorreram em dois momentos, no sétimo dia de preparação e no nono dia, fato este último que não teve um intervalo de três dias para o início do campeonato, nem entre um amistoso e outro, mas ambos os jogos contra equipes consideradas inferiores em relação ao seu plantel, onde todos os atletas que estavam a disposição de disputar a primeira partida oficial da temporada jogaram pelo menos um tempo de jogo.

Força muscular: O trabalho de força muscular serve como um auxílio para a preparação física do futebol das resistências aeróbias e anaeróbias. O trabalho com setenta e cinco por cento da carga máxima com repetições entre oito a doze significa um exercício de recuperação ativa dos músculos e contribui para a melhora da coordenação neuromuscular aumentando ainda a força por meio do acréscimo da massa muscular. Já se for trabalhada com noventa por cento da carga máxima é um exercício que serve exclusivamente para a melhora da potência. Em todos os trabalhos de força muscular executados com noventa por cento da carga máxima foram realizados após, treinamento de explosões buscando um aumento da potência, já para setenta e cinco por cento da carga máxima foi desenvolvido após um amistoso com o objetivo da regeneração, fazendo com que a recuperação muscular seja mais rápida.

Análise dos sistemas aeróbio, anaeróbio e misto: Com base nos treinamentos realizados neste período, pode-se entender que das dezessete sessões de treinos que tiveram, quatro foram a resistência aeróbia (corrida de quarenta minutos, exercícios proprioceptivos, musculação com setenta e cinco por cento da carga máxima e hidroginástica), quatro a resistência anaeróbia (musculação com força máxima, tiros de até cem metros, oito tiros de mil metros e musculação com noventa por cento da carga máxima) e as demais a resistência mista (soccer test, jogos em espaço reduzido, pliometria básica, coordenação e saltos, treinamentos técnicos, treinamentos táticos e amistosos).Verificou-se, que a predominância do treinamento na pré-temporada foi trabalhada a resistência mista e o restante dividido entre as resistências aeróbias e anaeróbias. No período de preparação para toda uma temporada, deve-se dar ênfase ao trabalho unido das resistências aeróbias e anaeróbias para assemelhar-se a uma partida de futebol, onde as duas resistências não se encontram separadas, o atleta deve ter um bom condicionamento anaeróbio, porém agüentando durante todos os noventa minutos de jogo (WEINECK, 2000, p. 15).

Considerações finais

De acordo com os treinamentos realizados a porcentagem do treinamento aeróbio e anaeróbio foi de 23% (vinte e três e meio por cento) cada um e 53% (cinqüenta e três por cento) do treinamento misto, onde se trabalhou as duas resistências juntas. O sistema anaeróbio deve ser treinado após um período de treinamento aeróbio que servirá como base para o aprofundamento do treinamento físico específico. A predominância no treinamento físico da pré-temporada deve ser a resistência mista, pois é o que mais se assemelha a uma partida de futebol, onde os atletas devem trabalhar durante os noventa minutos fundamentos de velocidade, tiro, mudanças de direção, força explosiva e máxima durante este tempo.

O período de pré-temporada não foi considerado ideal devido ao pouco tempo de preparação da equipe, em dez dias de trabalho o atleta encontra-se ainda muito debilitado para suportar toda uma temporada que estará por vir onde à carga de trabalho é longa e intensa. Em uma pré-temporada de dez dias deve-se objetivar a resistência aeróbia, pois em pouco tempo de trabalho realizar exercícios de resistência anaeróbia pode criar condições de os atletas terem grandes riscos de lesões musculares, esta devendo ser trabalhada durante o começo da temporada nas rodadas iniciais.

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