terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Velocidade: os tipos dessa capacidade e os fatores determinantes



As formas elementares e complexas das capacidades de velocidade são muito específicas e, via de regra, independentes uma da outra
Equipe Universidade do Futebol
A capacidade de velocidade do desportista engloba o conjunto das características funcionais que garantem a realização das ações motoras em um tempo mínimo. Na manifestação das capacidades de velocidade, destacam-se as formas elementares e as complexas.

As primeiras apresentam-se no tempo latente das reações motoras simples e complexas, na velocidade de realização dos exercícios isoladamente, diante de resistências externas insignificantes, e na frequência dos movimentos. A operacionalidade do mecanismo neuromotor e a capacidade de mobilização rápida das articulações na ação motora são os dois principais fatores determinantes dessa forma elementar.

O fator inicial é exposto, em grande parte, geneticamente e seu potencial para aperfeiçoamento é insignificante. Já o segundo, tem melhores possibilidades de melhoria pelo treinamento e apresenta-se como reserva básica para desenvolvimento de formas elementares. Por conta disso, a rapidez da ação motora é garantida, em grande medida, pelo ajuste do aparato motor à condição de solução da tarefa e pelo controle da coordenação muscular que permite a utilização completa das capacidades do sistema neuromuscular do desportista (Verkhochanski, 1998; Wilmore e Costill, 2004).

Na esfera esportiva, o tempo latente da reação simples, com frequência, ultrapassa o tempo de ação dos estímulos externos. Por exemplo, o tempo do voo da bola no pênalti e as ações de velocidade de boxeadores, esgrimistas e jogadores de vôlei, são completados em menos de 100ms, enquanto as fixações visuais podem durar 500 a 600ms e dependem da complexidade perceptiva (Keller, 1987).

Nos casos citados, naturalmente, o desportista não tem condições de usar uma reação simples para responder aos sinais de caráter auditivo, tátil, proprioceptivo ou misto.

A eficácia e a objetividade desse tipo de reação – especialmente nos jogos – podem ser explicadas pela antecipação. Isso significa que o atleta reage não em virtude do surgimento deste ou daquele estímulo, mas de acordo com a previsão (temporal ou espacial) que faz sobre o início ou surgimento de um sinal para suas próprias ações antecipando o momento e o local da ação do adversário ou parceiro. O movimento de um atacante, na visão de um zagueiro, ou a posição da bola, em relação ao goleiro, são dois exemplares.

A reação antecipada é uma das formas de previsão realista, qualidade muito importante para o rendimento da atividade do atleta em interações complexas e rápidas. Já as reações imediatas e de antecipação podem ser simples ou complexas.

As formas complexas subdividem-se em disjuntivas (pela seleção excludente) e diferenciadas. No caso, a reação de um jogador de futebol (chute ao gol ou passe para o companheiro) é um desses pontos elucidativos, pois não é possível efetuar os dois procedimentos concomitantemente.

Na reação diferenciada, um dos tipos de resposta mais complexos, há exigência de um grande esforço de atenção para escolha rápida da ação adequada e, às vezes, para interrupção de uma resposta já iniciada ou mudança de uma ação para outra.

As formas complexas de manifestação das capacidades de velocidade nos atos motores complexos próprios da atividade do treinamento e das competições de várias modalidades dependem da combinação das formas elementares entre si e de sua interação com outras capacidades motoras e habilidades técnicas. Essas manifestações complexas estão relacionadas à capacidade de atingir um alto nível de velocidade em distância, às perícias de acelerar rapidamente na largada, de realizar rapidamente os movimentos necessários ao desenrolar da disputa competitiva.

Uma das condições básicas das manifestações complexas das capacidades de velocidade é a mobilidade dos processos nervosos que se manifesta no aperfeiçoamento dos processos de estimulação e inibição das diferentes seções do sistema nervoso e o nível da coordenação muscular (Narici ET AL., 1989; Sale, 1992).

O nível das capacidades de velocidade é influenciado também pelas particularidades do tecido muscular – proporção de cada tipo de fibra muscular, elasticidade do tecido, capacidade de distensão e nível de coordenação intra e intermuscular (Alexander, 1988; Huijing, 1992). A manifestação das capacidades de velocidade dos atletas está estreitamente relacionada também ao nível de desenvolvimento da força, da flexibilidade e da capacidade de coordenação (Caiozzo et AL., 1981; Wilmore e Costill, 2004), ao aperfeiçoamento da técnica desportiva, à capacidade dos mecanismos bioquímicos de mobilização rápida e ressíntese dos fornecedores anaeróbios aláticos de energia e ao nível das qualidades volitivas.

Entre todos esses fatores, ocupa papel de destaque o percentual das fibras CRa e CRb no tecido muscular que suporta a carga principal na modalidade desportiva praticada, ou seja, o percentual das fibras diretamente relacionadas ao nível das capacidades de velocidade.

Variadas habilidades e qualidades localizadas, que determinam o nível de desenvolvimento das capacidades de velocidade complexas e o potencial de aperfeiçoamento de muitas delas em resultado do treinamento especializado, predeterminam as chances de progresso real das formas complexas de manifestação das qualidades de velocidade (Hauptmann, 1994; Platonov, 1997).

No desporto atual – em especial o futebol –, em que há necessidade de manifestação máxima das capacidades e qualidades de velocidade, destacam-se três regimes de trabalho de velocidade: acíclico, caracterizado pela manifestação de momentânea do esforço explosivo concentrado; de aceleração no impulso da saída, manifestado na intensificação rápida da velocidade com o objetivo de atingir seus indicadores máximos no menor espaço de tempo; de deslocamento, relacionado à manutenção de determinada velocidade num trecho específico (Verkochanski, 1988).

As formas elementares e complexas das capacidades de velocidade são muito específicas e, via de regra, independentes uma da outra. Os indicadores do tempo de reação não estão relacionados aos indicadores da velocidade dos movimentos. Por isso é necessário um enfoque diferenciado para o aperfeiçoamento de cada capacidade de velocidade, com base em um grupo de meios e métodos orientados para a seleção das formas elementares (tempo de reação, velocidade de realização dos movimentos únicos e frequência dos movimentos), o nível de velocidade em distância e a capacidade de aceleração rápida na largada.

Bibliografia

PLATONOV. V.N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.

Nenhum comentário: