quarta-feira, 14 de abril de 2010

As dominantes do jogo de futebol e a complexidade


Para um modelo pautado nas teorias da complexidade, o jogo não deverá ser desintegrado, mas “fractalizado”, ou seja, desenvolvido através de atividades que representem fractais do jogo formal
Leandro Calixto Zago
Com o aparecimento de novas metodologias de treinamento em futebol, com destaque àquelas essencialmente apoiadas nas teorias da complexidade, novas discussões têm surgido acerca dos temas “treinamento” e “periodização” dentro da modalidade e um renovado conceito de processo vem emergindo em resposta a tais dilemas.

Para os profissionais habituados a trabalhar com as metodologias tradicionais, os conteúdos do treinamento estão bem definidos e são desenvolvidos cada um a seu momento de uma maneira fragmentada (e a palavra “fragmentada” aparece aqui não como crítica, mas como constatação), com uma ocupação das sessões de treino da semana dando ênfase na dominante física.

Para estes, uma metodologia que defenda a integração das dominantes física, tática, técnica e mental/emocional, manifestando–se simultaneamente nas atividades propostas, aplicando os conceitos de volume, intensidade e densidade com outros objetivos e com o controle do treino sendo feito através de outras variáveis que não as corriqueiras, ainda parece uma ideia nebulosa e pouco prática.

A metodologia mais evidenciada nessa nova tendência é a Periodização Tática (PT), que propõe toda a estruturação dos treinamentos, desde a pré-temporada, balizada pelo Modelo de Jogo que se pretende construir e que deve evoluir continuamente atingindo seu ápice no final da temporada. A PT não prevê queda de rendimento para uma retomada posterior, o nível de elaboração do Modelo de Jogo deve chegar a níveis superiores sequencialmente.

Para que esse fenômeno ocorra, devem-se selecionar os conteúdos, estabelecer a forma como eles serão desenvolvidos e estabelecer um processo com base pedagógica que será concretizado através de uma didática coerente.

Cada uma das dominantes anteriormente citadas possui seu próprio conteúdo, porém, há uma diferença na forma de desenvolvimento das mesmas, visto que elas devem estar presentes no treino de maneira similar àquela em que se manifestam no jogo como podemos observar na figura 1.




Figura 1 – Paradigmas de manifestação das dominantes no Jogo


Ao aplicar um paradigma cartesiano para a análise do jogo, possivelmente será dele retirado um modelo parecido com o interdisciplinar (não é o objetivo aqui entrar nesta discussão, mas deve-se ressaltar que no futebol profissional no Brasil atualmente algumas equipes ainda não atingiram esse estágio, trabalhando num modelo multidisciplinar, sem a mínima interação entre as áreas) e consequentemente o treinamento desintegrará as partes do jogo, para potencializá-las separadamente e, num momento posterior, integrá-las na tentativa de transformar os ganhos isolados em aumento no rendimento do jogo.

Para um modelo pautado nas teorias da complexidade, o jogo não deverá ser desintegrado, mas “fractalizado”, ou seja, desenvolvido através de atividades que representem fractais (partes do todo que contém todas as características do todo, mantém a identidade do todo) do jogo formal, com modificações no tempo, no espaço, no número de jogadores, na regra, entre outras variáveis, mas que sempre mantenham relação com a unidade funcional do jogo.

E para manter íntima relação com o jogo, as atividades devem ter conteúdos táticos, físicos, técnicos e mentais, porque, dentro do processo de evolução do “jogar” da equipe, são estes (os conteúdos) que permitirão que a modelação pretendida pelos membros da comissão técnica se concretize e se transforme em resultados consistentes.

Para finalizar, há duas informações muito importantes para os profissionais interessados nessas novas metodologias que devem ser assimiladas para que não ocorram “enganos”. A primeira é esclarecer que mini-jogos e/ou jogos reduzidos não são as atividades citadas responsáveis por construir o Modelo de Jogo. As atividades referidas são jogos condicionados que possuem uma relação entre eles durante todo o processo e que são únicos para cada treinador que trabalhe nessa perspectiva.

A segunda informação é que não dá para desenvolver uma parte do trabalho pautada na complexidade e outra não: é uma questão de filosofia. Ou a comissão técnica tem conhecimentos sólidos para desenvolvê-la, ou trabalha dentro daquilo que conhece mais profundamente.

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