quinta-feira, 15 de abril de 2010

A PERIODIZAÇÃO NO FUTEBOL



O futebol profissional de alto rendimento apresenta algumas particularidades em comum nos cinco continentes, mais notadamente nos grandes clubes sul-americanos e europeus: elevado número de jogos, competições simultâneas, pouco tempo para preparação geral (pré temporada) e elevada cobrança por resultados (necessidade de alto rendimento durante todo o ano), ou seja, as equipes se vêem na obrigação de entrar em todas as competições que disputam com o time em condições de brigar pelo título.
A pressão da imprensa esportiva, dos torcedores e dos próprios dirigentes é elevada e nenhuma dessas partes quer saber se há condições adequadas para uma boa preparação ou não. Por essas razões, as periodizações tradicionais: Matveyev, Verkhoshanski e outros, não têm lugar no futebol profissional como exemplificado acima. Se existe a pressão para disputar todas as competições do calendário anual em condições de ganhar o título, não haveria coerência em estabelecer metas para obtenção de um pico de performance que, como se sabe, tem duração limitada, vindo a seguir um período de decréscimo no desempenho.
É característica do futebol, exigir um desempenho ótimo, não máximo, em praticamente todas as capacidades físicas. Desta forma, um modelo de periodização que consiga manter um desempenho “apenas” ótimo, mas que perdure ao longo de toda a temporada seria o mais indicado.
Alguns modelos de periodização, que têm sido utilizados de maneira mais coerente com o calendário do futebol, seriam a periodização com cargas ondulatórias (Tschiene,1990), (Manso; Valdivielso; Caballero, 1996), o modelo de Cargas Seletivas (Gomes, 2002) e a chamada Periodização Tática, citada por Oliveira (2005), Carvalhal (2003) e Mourinho (2001). Estes modelos preconizam algumas características em comum como: período geral curto ou até mesmo inexistente, ênfase em trabalho específico, intensidade alta durante toda a temporada e volume mais ou menos constante.

Cargas Ondulatórias:

Como o próprio nome diz, as cargas de treinamento são distribuídas ao longo da temporada de forma ondulatória. Alternando-se Volume e Intensidade sem baixar de 80% de seus potenciais máximos de carga, ou seja, uso contínuo de uma elevada Intensidade, utilização predominante de trabalho específico de competição, utilização de intervalos profiláticos. Como não objetiva atingir um pico de performance, mas manter um bom nível de rendimento ao longo de toda a temporada, é importante que o nível técnico da equipe seja alto e homogêneo como forma de compensar a inexistência de um índice máximo de performance.

Cargas Seletivas:

Caracteriza-se por um período geral curto (como é comum no futebol brasileiro), seguido de período específico onde se prioriza a intensidade e as capacidades relacionadas à velocidade. O Volume permanece praticamente inalterado. Objetiva o rendimento sub-máximo em cada capacidade. A capacidade aeróbia, por exemplo, com exceção do período geral (pré-temporada), não necessitará ser trabalhada através do seu treinamento específico e/ou isolado, uma vez que todas as outras formas de treinamento (treinos anaeróbios, coletivos, etc.), além do próprio jogo em si, já serão suficientes para mantê-la em um nível adequado para a prática do futebol em alto nível de rendimento.

Periodização Tática:

Contextualização do jogo, da equipe, dos jogadores, das competições, etc. A componente tática como ponto central da preparação; o Modelo de Jogo Adotado exige uma integração onde estarão subjugadas à dimensão táctica as restantes dimensões: Técnica, física e psicológica, as quais serão desenvolvidas “a reboque”. O Princípio da Especificidade é quem dirige a Periodização Táctica. O meio de operacionalizar o Modelo de Jogo são os exercícios específicos, exercícios desenvolvidos com Intensidade em concentração, de acordo com o Modelo de Jogo Adotado e serão os meios mais eficazes para adquirir uma forte relação entre mente e hábito.
A operacionalização do treino exige a utilização de exercícios específicos desde o primeiro dia de treinamento da temporada. Impõe-se uma inversão no binômio Volume-Intensidade, a Intensidade é quem "comanda", e o Volume é o somatório de frações de máxima intensidade (Volume da qualidade) de acordo com o Modelo de Jogo Adotado. Esta periodização obriga o Princípio da Estabilização, de forma a permitir os patamares de rendimento. A Estabilização da Forma Desportiva conseguese com base na estruturação de um determinado microciclo, onde o grau de desgaste semanal seja similar de semana para semana. A estrutura básica do microciclo deve manter-se (os momentos de treino, a duração, etc), o que leva a uma estabilização de rendimento. Faz sentido falar em forma desportiva coletiva, que está ligada ao jogar (bem) de acordo com o Modelo de Jogo Adotado. A referência que serve como indicador é: "jogar melhor". Ausência de trabalho geral e de trabalho isolado das capacidades físicas. O trabalho dentro da especificidade desde o primeiro dia de treinamento tem como objetivo o imediato desenvolvimento do esquema de jogo da equipe, alternando as intensidades através de conceitos como: tempos, densidade, pausas, continuidade, concentração, intensidade de concentração, esta especificidade sendo o mais próximo possível da realidade de jogo. As periodizações tradicionais seriam indicadas para equipes de pequeno ou médio porte e para categorias de base, onde a pressão por resultados e o número de competições disputadas no ano seriam, teoricamente, menores.

Referências Bibliográficas
GOMES, Antônio Carlos. Treinamento desportivo: estruturação e periodização. Editora Artmed, 2002 – Porto Alegre.
OLIVEIRA, Raúl. A planificação, programação e periodização do treino em futebol: um olhar sobre a especificidade do jogo de futebol. www.efdeportes.com, Revista Digital - Año 10 - No 89 – Outubro 2005 – Buenos Aires.

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