quarta-feira, 26 de maio de 2010

Universidade do Futebol – O treinador português Jose Mourinho defende um modelo de treino integrado, em que não há separação entre o que é físico, técnico, tático e psicológico. O que você pensa a respeito disso e como vê a aplicação de ideias como essa no futebol brasileiro?

Fernando Catanho – Eu já tive oportunidade de ler uma obra do professor Mourinho. Considero-a bastante audaciosa e, de certa forma, eficiente. Acredito inclusive que a preparação física deve tender cada vez mais para algo específico, baseado nas situações e condições de jogo.

De certa forma, vejo a aplicabilidade de parte das ideias em qualquer agremiação ou clube brasileiro, desde que as pessoas responsáveis consigam adaptar sua realidade ao discurso teórico.

Ao mesmo tempo, julgo que devemos ter cautela no quanto esta proposta pode e deve ser aproveitada em nossa realidade. Não consigo ainda enxergar o futebol sem o aparato da sala de musculação e dos exercícios resistidos “inespecíficos”, sem os tiros intensivos e extensivos sem bola, sem os trabalhos de flexibilidade e coordenação descontextualizados da situação de jogo, para não citar muitos outros.

Logo, como tudo na vida, deve haver bom senso, equilíbrio quanto à utilização dos treinos integrados. Creio que o pensamento do professor Mourinho soma àquelas ideias de preparação física, técnica, tática e psicológica pré-existentes, mas não “toma o lugar” das mesmas.




O que é velocidade no futebol?




Universidade do Futebol – Atualmente, pode-se dizer que a fisiologia do esporte aplicada ao futebol ultrapassou as ações laboratoriais e tem atuação direta no cotidiano das agremiações? Qual é o novo papel do fisiologista?

Fernando Catanho – Essa pergunta abre precedente para esclarecimentos importantes. O fisiologista não é nem aquele sujeito com semblante de pesquisador, de jaleco, óculos, descabelado, dentro de um laboratório, envolto por aparelhos, nem aquele que se limita às ações dentro do campo de futebol.

O fisiologista deve, sim, se valer do nobre conhecimento que nasce no estabelecimento laboratorial, mas que tem a atitude, a audácia de testar tais conhecimentos na prática, sob chuva ou sol, calor ou frio, vitória ou derrota, com ou sem as melhores ferramentas, apoiado sempre pela instituição.

Confesso, com o perdão da palavra, que o maior “tesão” em termos da prática fisiológica é tentar encontrar alternativas que façam com que sua equipe evolua, buscando controlar e considerar o maior número de variáveis nos atletas, desde o estado de hidratação até o limiar anaeróbio, passando pela avaliação da qualidade do sono, do poder competitivo, do nível de ansiedade e da sensação de dor do atleta.

Fisiologista deve ser um sujeito desconfiado, irrequieto, atento, questionador, versátil, audaz, maleável e estudioso. Em suma, o papel desse profissional não termina quando o mesmo envia os dados das avaliações físicas para o preparador físico e comissão técnica. Ele começa neste momento.

Resumo a função do fisiologista, atualmente, da seguinte forma:

- é um avaliador (levantamento de dados e informações para poder propor atitudes práticas);

- é um tutor (discute o planejamento e a periodização, estimulando os preparadores físicos a justificarem suas escolhas e atitudes);

- é um educador (deve fomentar a criação de grupos de estudo no ambiente de trabalho).

Universidade do Futebol – Na mesma linha, essa realidade se aplicará para a bioquímica em um futuro próximo também? Qual a sua opinião?

Fernando Catanho – Acredito que já deve estar sendo aplicada, uma vez que parto do pressuposto de que todo fisiologista deve carregar consigo os conhecimentos bioquímicos.

Particularmente, não enxergo a ação do fisiologista destituída de um embasamento bioquímico-metabólico consistente. Logo, o fisiologista é aquele profissional que mescla o conhecimento e a prática de duas áreas correlatas e de fundamental importância: a fisiologia e bioquímica do futebol – e, principalmente, no futebol.

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