quarta-feira, 26 de maio de 2010

Universidade do Futebol – O que diferencia hoje o trabalho entre preparadores físicos no Brasil, já que hoje o conhecimento está muito mais acessível? Existem modelos e métodos diferentes sendo aplicados por diferentes preparadores físicos no nosso país? Isso pode ser o diferencial para que algumas equipes vençam mais do que outras?

Francisco Ferreira – Vejo que o conhecimento está acessível, que muitos profissionais de clubes pequenos conseguem muitas vezes os mesmos resultados em termos físicos para seus atletas em comparação com os atletas de grandes clubes. Percebo, também, que há diferenças culturais, metodológicas, filosóficas que, ao longo dos 11 anos que estou aqui no Cruzeiro, me permitiram ver preparadores físicos dos mais diversos tipos: um gosta de aeróbio e não gosta de musculação, outro é “tarado” por musculação, outro adora a caixa de areia, e por aí vai.

Como o conhecimento está realmente democratizado, o aspecto físico está muito nivelado, assim, o que ganha jogos e campeonatos é uma somatória de detalhes – a organização, a estrutura, o plantel homogêneo de bons jogadores e com pelo menos alguns daqueles ditos diferenciados, os talentos.

Há outros fatores que podem ajudar, como “camisa”, tradição, torcida, força política, etc. No final, fica a máxima de que com grupo bom se ganha, com grupo mais ou menos dá até para fazer boa figura, e grupo fraco não se chega a lugar algum.

Universidade do Futebol – O senhor acompanha o que se vem fazendo na Europa em termos de preparação física? Quais inovações e caminhos a preparação física tem tomado por lá? Nesses centros, treina-se “menos”, ou se treina de modo “diferente”?

Francisco Ferreira – Acompanho muito através dos atletas que retornam da Europa para o Cruzeiro. Eles geralmente dizem que se treina pouco, que os treinos são em sua maioria treinamentos de performance, os famosos jogos em campo reduzido (Balson, 1999).

A última moda no aspecto preventivo são os treinamentos funcionais. Na verdade, eu gostaria muito de poder assistir às sessões de treino aplicadas pelo Mourinho para ver o que ele realmente apresenta de novidade.

Universidade do Futebol – Na Holanda, por exemplo, não há a figura do preparador físico, e sim a do assistente-técnico. Como é a sua relação de estruturação de trabalho com o treinador? Como o treino é estruturado?

Francisco Ferreira – Aqui ainda trabalhamos da maneira tradicional, com os especialistas de cada área dando sua contribuição em prol do grupo de atletas, ou seja, uma comissão multidisciplinar e que saiba trabalhar de maneira inter e transdisciplinar. Cada um traz sua opinião, sua avaliação e entrega àquele que toma a decisão final, o treinador.

Mais uma característica do bom treinador é ter a sabedoria para ouvir, debater e acatar, quando for o caso, a opinião de sua comissão técnica. Aquele que tem a dose certa de autoconfiança e de confiança em sua comissão técnica sai em vantagem.

A elaboração do treino deveria obedecer a inúmeros critérios: calendário de jogos, momento da competição, prioridade de competições, estado físico dos atletas, viagens, tempo para recuperação, contusões, suspensões, convocações, etc.

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