quarta-feira, 26 de maio de 2010

Universidade do Futebol – Qual a real importância dos marcadores sanguíneos na indicação de nível de lesão, estado de hidratação, condição de fadiga e desgaste muscular de um atleta de futebol?

Fernando Catanho – Os marcadores sanguíneos devem ser vistos e compreendidos como uma forma de refinar a qualidade da avaliação que o fisiologista pretende mediante seus atletas.

Essa avaliação permite identificar fenômenos de extremo interesse para o fisiologista, permitindo que o mesmo discuta e sugira ajustes na distribuição das cargas de treinamento e jogos e ainda na qualidade e quantidade da recuperação proposta.

Um dos marcadores que mais ganha destaque neste sentido é a enzima Creatina Quinase (CK), marcador de lesão muscular bastante aplicado no futebol. Vale destacar, por fim, que a aplicabilidade destes marcadores sanguíneos se dá quando contextualizada ao ambiente de trabalho, ou seja, feita em conjunto com demais marcadores indiretos, como por exemplo, volume e carga de treinamento.

Além de contar com a participação de demais departamentos, como a nutrição e a fisioterapia para a interpretação dos resultados.

Universidade do Futebol – Há condições reais no futebol brasileiro de se investir nesse tipo de estratégia? Tais análises de sangue fazem parte mesmo da realidade futebolística em sua total amplitude?

Fernando Catanho – Há condições, sim. Basta haver planejamento e segurança daquilo que se quer investigar. Esse planejamento e essa segurança são extremamente necessários para que se convençam os dirigentes, geralmente reticentes a essas metodologias de trabalho.

Muitas vezes não há condições da utilização de 10 marcadores, mas três são possíveis. Ótimo: trabalhemos com esses três e batalhemos para chegar aos 10.

Mesmo assim, considero que ainda estamos em processo de evolução no entendimento e aplicação de tais marcadores na realidade futebolística. Há ainda um hiato que separa a bioquímica e a fisiologia do futebol (aquela que a ciência relata no papel), daquela bioquímica e fisiologia no futebol (aquilo que, do papel, tem serventia na prática).

Aí aparece mais uma função do próprio fisiologista: transformar os conhecimentos metabólicos “do” futebol “no” futebol.

Universidade do Futebol – Que parâmetros podem ser estabelecidos para se diferenciar a bioquímica do exercício, da fisiologia do exercício?

Fernando Catanho – Não estabeleceria parâmetros que diferenciam essas áreas de conhecimento. Considero que, dentro do papel desempenhado pelo fisiologista do exercício, há uma grande participação do entendimento da bioquímica do exercício.

São áreas bastante interdependentes e interrelacionadas, comungando e dependendo dos mesmos parâmetros.

Universidade do Futebol – Em se considerando que o futebol é uma modalidade acíclica, além de intermitente, como se deve realizar o desenvolvimento da capacidade e da resistência anaeróbias?

Fernando Catanho – Parte desta resposta está na própria pergunta. Os estímulos devem considerar a aciclicidade e a intermitência da própria modalidade. Aciclicidade denota saídas rápidas, paradas bruscas e mudanças de direção. Intermitência denota repetição de diversos tipos de estímulos entremeados por diferentes tipos de pausa.

Aliás, aqui reside uma das grandes importâncias do fisiologista: auxiliar no controle das variáveis de treinamento e quantificar os resultados das propostas de treino. Nesse caso, se o objetivo está voltado para a resistência anaeróbia, valência determinante no futebol, sugerem-se diversos estímulos intensos (máximos), de duração curta-moderada (via fosfagênica e glicolítica bem estimuladas) e pausas incompletas (desenvolve os mecanismos de ajuste de pH e de remoção de lactato, além do desenvolvimento metabolismo aeróbio).

Esse trabalho pode ser feito na caixa de areia, na sala de musculação, na pista de atletismo, na quadra coberta (em dia de chuva) e, principalmente, no campo de futebol. Sempre com a preocupação de trabalhar com estímulos mais próximos possíveis à condição de jogo – número de estímulos, pausas entre eles, distância percorrida e posição do atleta em campo.

Nenhum comentário: