sexta-feira, 28 de maio de 2010

Novas tendências em pedagogia do esporte: a abordagem tradicional

A pedagogia tradicional e sua visão tecnicista impedem o desenvolvimento intelectual dentro de campo
Esta é a segunda crônica, de uma série de quatro, em que procurarei apresentar os pontos básicos destacados pelas principais correntes e autores da pedagogia do esporte, que dedicam seus trabalhos à superação da abordagem tradicional de ensino e treinamento de esportes.

Neste texto em particular, quero me ater na explicação do quadro apresentado na primeira crônica da série. Logo, explicarei o quadro esquemático e sintético referente à pedagogia tradicional de ensino dos esportes.

Sendo assim, posso destacar que a abordagem tradicional de ensino em pedagogia do esporte é totalmente centrada no ensino da técnica. Ou seja, vale-se de uma metodologia que defende a idéia de que para aprender a jogar (esportes) é necessário primeiramente dominar certo número de movimentos estereotipados e classificados como universais: os fundamentos técnicos das várias modalidades esportivas.

Escrevi certa vez que essa perspectiva perpassa a idéia de que para se compreender algo como um todo, é necessário dividi-lo em partes e estudar as suas partes separadamente, para só depois juntar as partes estudadas, tendo desse modo uma melhor compreensão do todo.

Nesta concepção, se o objetivo é aprender esporte, as mais eficientes metodologias serão aquelas que fragmentarem o processo de ensino dos esportes em partes. Por exemplo, retiram-se os gestos técnicos do jogo e os ensinam de maneira descontextualizada, para ingenuamente depois se pensar em juntá-los para se ter com isso uma melhora no jogo formal.

Destarte, os planos de aulas que se pautam na abordagem tradicional são invariavelmente divididos em três ou quatro partes. Sendo a primeira destinada ao alongamento e aquecimento, para na seqüência ser desenvolvida a parte principal da aula, que deve se resumir a treinos técnicos e, por fim, joga-se o jogo formal. Uma quarta parte, muitas vezes presente, é denominada volta à calma.

Para essa abordagem, o ensino dos esportes se guia pela reprodução de modelos, em que o professor só será capaz de ensinar se dominar perfeitamente os movimentos exigidos pelo jogo. Essa concepção de ensino abre espaço para que se perpetue a idéia de que o melhor professor deverá ser inevitavelmente o melhor jogador (essa idéia, infelizmente, é ainda disseminada nos cursos de formação de Educação Física, principalmente, nas aulas práticas em que se ensina a jogar determinado esporte – seguindo regras oficiais e rígidas – e não se preocupam com o fato de ensinar os futuros professores a ensinar, ou seja, a ser professores e não jogadores).

As aulas tradicionais têm por objetivo então, reproduzir esses movimentos por meio da repetição exaustiva, buscando automatizar os gestos. Em outros termos, formam-se jogadores que repetem movimentos de forma mecânica, caracterizando a produção em série de jogadores (robôs) pré-programados, que devem sair da linha de produção modelados e moldados à forma das vontades e interpretações de alguém (externo ao individuo).

Podemos dizer isso porque esse processo impede que os alunos pensem. Existe até uma máxima divulgada pelos tecnicistas, em que os jogadores iniciantes devem repetir/reproduzir os movimentos até a automação, para que, quando exigidos no jogo, não seja necessário pensar.

Dessa forma, essa pedagogia indiscutivelmente formará (produzirá) excepcionais jogadores no que diz respeito ao domínio de um restrito acervo de habilidades motoras. Assim, por exemplo, corroborando o que já disse, poderíamos dizer que a pedagogia do esporte tradicional produziria excelentes malabaristas com a bola nos pés, nas mãos... e limitados jogadores no quesito resolução de problemas, principalmente em um jogo que exige uma conduta motora diferente e aleatória a cada nova situação desencadeada pelo acaso de sua desordem.

Dando sequência, podemos dizer que a pedagogia tradicional descarta o fato de que, principalmente, nos jogos coletivos seu processo de organização sistêmico não pressupõe uma conduta motora a priori. Ou seja, essa conduta motora é construída à medida que os jogadores interpretam a sempre nova situação problema, e buscam solucioná-la a partir de suas competências e habilidades.

A valorização do gesto técnico eficiente acaba por impedir que os iniciantes jogadores desenvolvam suas respectivas condutas motoras que irão enriquecer suas habilidades, ao mesmo tempo em que desenvolvem competência interpretativa. Nesse sentido, parte-se de um hipotético gesto eficiente em detrimento de um possível gesto eficaz.

Por fim, a pedagogia tradicional exige pré-requisitos, logo é seletiva, pois os alunos que não conseguirem reproduzir os movimentos serão descartados. Assim são os alunos que se adaptam as exigências do treino e não o contrário.

Portanto, ao final do processo teremos cada vez mais jogadores dependentes, que necessitam de respostas prontas dadas por alguém de fora (exterior ao jogo), que deverão ser seguidas sem questionamento, pois sempre foi assim e assim deverá continuar a ser.

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